16
de junho de 2013 | N° 17463
FILHOS
DA RUA
Caminho de
volta
Diziam
que seu destino seria a cadeia ou a morte.
Que
corria o risco de nem chegar aos 15 anos – já era uma surpresa ter completado
14. Que não havia jeito, o crack tinha corroído suas chances de recuperação.
Contra
todos os prognósticos, o guri que há um ano se transformou em símbolo de um
fracasso coletivo ao ter sua peregrinação pelas esquinas estampada na reportagem
Filho da Rua tateia desde então um novo caminho, pavimentado com olhares mais
atentos da rede de assistência. Uma trilha inconstante, mas bem mais promissora
do que os mais otimistas ousavam acreditar até 17 de junho do ano passado,
quando a história do adolescente foi contada em 16 páginas de Zero Hora.
Nem
a própria mãe acreditava que pudesse ser diferente, desesperançada com os nove
anos de idas e vindas do filho entre a casa e as calçadas. Primeiro seduzido
pelas esmolas, em seguida agarrado pelas drogas – num enredo comum a tantas
crianças e adolescentes que perambulam pelas sombras de Porto Alegre ou de
qualquer outra cidade do Brasil.
Depois
de acompanhar Felipe por três anos e reunir mais de 300 páginas de documentos
de sua história, a publicação diagnosticava o drama que nenhum programa social
havia sido capaz de interromper: aos 14 anos, o adolescente já somava 105
encaminhamentos do Conselho Tutelar e continuava nas esquinas, havia sido
matriculado em quatro escolas e seguia analfabeto, tinha estado internado sete
vezes para tratar sua dependência química e permanecia usuário de crack.
Parecia que as chances de reabilitação estavam esgotadas.
Um
ano depois, ZH mostra como o improvável se tornou possível. Desde julho do ano
passado, Felipe voltou a dormir em casa com regularidade – tornando as
ausências uma exceção. No final de fevereiro deste ano, foi matriculado
novamente na escola – apesar de ter metade das presenças esperadas, até o final
de maio continuava vinculado.
Cada
dia é uma vitória, em meio a um cenário de risco permanente. Antes de aprender
a ler e escrever, o adolescente inaugurou oficialmente seu currículo de
infrator, com sua primeira passagem pela Fundação de Atendimento Socioeducativo
(Fase) no ano passado – e atualmente cumpre em liberdade outra medida
socioeducativa por desacato policial.
O
caminho de volta para casa é instável, mas vem acompanhado de uma decisão
crucial: Felipe não quer mais ser filho da rua. – Agora sou filho de casa –
brinca o adolescente, hoje com 15 anos.
* ZH
acompanha a trajetória de Felipe desde março de 2009, com autorização do
Juizado da Infância e da Juventude. Os nomes do adolescente e de sua família
foram trocados para preservar a identidade, como determina o Estatuto da
Criança e do Adolescente.
leticia.duarte@zerohora.com.br
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