30
de junho de 2013 | N° 17477
MARTHA
MEDEIROS
Anjos
Fala-se muito em Deus, mas pouco em anjos. Acredito
neles, nos zelosos guardadores, não sentados em nuvens tocando trombeta, mas
aqui, no plano terreno. Um pode ser o anjo do outro. Você pode ser meu anjo, e
eu o seu.
Vou
compartilhar uma história que aconteceu no final de fevereiro. Recebi um
convite para integrar a equipe de uma instituição britânica liderada pelo
filósofo e escritor Alain de Botton, a The School of Life, que está
introduzindo atividades no Brasil. Topei. No entanto, meu inglês é precário.
Consigo
viajar sem pagar micos, me comunico em hotéis e restaurantes, mas não tenho
fluência para manter uma conversa digna com um estrangeiro. E isso será
fundamental no novo desafio profissional que me surgiu. Preciso aprender inglês
pra ontem. Como? De preferência, estudando fora, fazendo um curso de imersão.
Até então, isso nunca tinha passado de um sonho da juventude.
Dias
depois de a The School of Life me procurar, recebi outro convite: lançar meus
livros em Torres. Passei quase três horas autografando para veranistas e
moradores da cidade. Quando a livraria estava fechando a porta, um homem
insistiu em entrar. Um turista. Ele pediu minha dedicatória, a última da noite,
e me entregou seu cartão.
Era,
simplesmente, um renomado gestor de cursos de inglês no Exterior. O procurei na
semana seguinte e, para encurtar a história, estou matriculada em uma das
escolas mais sérias da Inglaterra, já tenho um flat alugado e estou com toda a
burocracia resolvida. De quebra, fiz um novo amigo.
Esse
tipo de história é recorrente na minha vida. Qualquer questão que se apresente,
a solução cai do céu em dias, às vezes em horas, através de alguém que não
conheço. O exemplo que dei é elitista, mas já aconteceram coisas bem mais
prosaicas e milagrosas – nunca me apertei. Sempre um anjo apareceu do nada.
Pode-se
chamar isso de ter sorte, ou uma boa estrela. Dá no mesmo. Estamos falando de
receptividade e de doação. Você tem um anjo porque também já foi o anjo de
alguém. E se tudo não passar de baboseira, que seja. Num mundo rude como o
nosso, há que se flertar com o esotérico.
No
momento em que você me lê, já estou em Londres. Amanhã começam minhas aulas e
não vai ser moleza: serão seis horas por dia, afora os temas de casa e alguns
compromissos com a The School of Life, a entidade que deu início a essa minha
movimentação. Por isso, ficarei ausente do jornal durante todo o mês de julho.
Prometo retornar em agosto mais inspirada e, se os anjos ajudarem, reencontrar
vocês com saudades. Até breve.
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