13
de junho de 2013 | N° 17461
L.F.
VERISSIMO
Casamento
O
tão discutido casamento homossexual não deixa de ser uma sequência natural da
longa e estranha história de uma convenção, a união solene entre duas pessoas,
que começou no Éden. A Bíblia não esclarece se Adão e Eva chegaram a se casar,
formalmente. Deve ter havido algum tipo de solenidade.
Na
ausência de um padre, o próprio Criador, na qualidade de maior autoridade
presente, deve ter oficiado a cerimônia. No momento em que Deus perguntou se
alguém no Paraíso sabia de alguma razão para que aquele casamento não se
realizasse, ninguém se manifestou, mesmo porque não havia mais ninguém.
A
cerimônia foi simples e rápida apesar de alguns problemas – Adão não tinha onde
carregar as alianças, por exemplo – e Adão e Eva ficaram casados por 930 anos.
E isso que na época ainda não existiam os antibióticos.
Mais
tarde, instituiu-se o dote. Ou seja, as mulheres, como caixas de cereais,
passaram a vir com brindes. O pai da noiva oferecia, digamos, 10 cântaros de
azeite e dois camelos ao noivo e ainda dizia:
–
Pode examinar os dentes. – Deixa ver...– Da noiva não, dos camelos!
Houve
uma época em que os pais se encarregavam de casar os filhos sem que eles
soubessem. Muitas vezes, depois da cerimônia nupcial, os noivos saíam,
ofegantes, para a lua de mel, entravam no quarto do hotel, tiravam as roupas,
aproximavam-se um do outro – e apertavam-se as mãos.
–
Prazer. – Prazer. – Você é daqui mesmo?
Eram
comuns os casamentos por conveniência, pobres moças obrigadas a se sujeitar a
velhos com gota e mau hálito para salvar uma fortuna familiar, um nome ou um
reino. Sonhando, sempre, com um Príncipe Encantado que as arrebataria. O sonho
era sempre com um Príncipe Encantado. Nenhuma sonhava com um Cavalariço ou com
um Caixeiro-Viajante Encantado. Mais tarde, veio a era do Bom Partido.
As
moças não eram mais negociadas, grosseiramente, com maridos que podiam garantir
seu futuro. Eram condicionadas a escolher o Bom Partido. Podiam namorar quem
quisessem, mas na hora de casar...
–
Vou me casar com o Cascão.
– O
quê?!
–
Nós nos amamos desde pequenos.
– O
que o Cascão faz? – Jornalismo. – Argk!
A
era do Bom Partido acabou quando a mulher ganhou sua independência.
Paradoxalmente, foi só quando abandonou a velha ideia romântica de ser frágil e
sonhadora, que a mulher pôde realizar o ideal romântico do casamento por amor,
inclusive com o Cascão. Só havendo o risco do Cascão preferir casar com o
Rogério.
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