FERNANDO
RODRIGUES
Surgem novos cenários
BRASÍLIA
- Ninguém tem a menor ideia de como será o desfecho e qual será o saldo dos
protestos de rua atuais. Nem os próprios manifestantes. É natural que seja
assim. Em geral, as pessoas só sabem o que não querem, mas não o que querem.
Hoje,
quem marcha pelas cidades brasileiras ao cair da tarde rejeita os partidos, os
políticos, a corrupção. É contra quase tudo. Só não dizem exatamente o que
colocar no lugar.
Um
dos poucos consensos a respeito do que se passa é que alguma consequência haverá.
Uma delas é uma nova configuração dos cenários de 2014. As 27 disputas para
governador e a corrida presidencial estavam caminhando para uma zona de
conforto, com muitos nomes sendo dados como favoritos. Agora, há mais dúvidas
do que certezas.
Tome-se
o caso da pesquisa Datafolha divulgada ontem e realizada anteontem apenas entre
os manifestantes na cidade de São Paulo. O líder do levantamento na disputa
pelo Palácio do Planalto é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim
Barbosa, com 30%. Em segundo lugar vem Marina Silva, da Rede Sustentabilidade,
com 22%. Ou seja, juntos eles têm mais da metade das preferências entre os
paulistanos que estão protestando.
Dilma
Rousseff, que, na pesquisa nacional Datafolha do início do mês, pontuou 51%,
aparece com meros 10% entre os manifestantes de São Paulo. O tucano Aécio Neves
tem 5%. Eduardo Campos, só 1%.
Outro
dado notável é a taxa dos que dizem votar em branco, nulo ou nenhum: 27%. Embora
esse percentual seja três vezes superior à média nacional, fica um pouco desmontada
a tese de que os indignados rejeitam 100% dos políticos. Não é bem assim.
É evidente
que essa é uma pesquisa cheia de viés por ter sido realizada durante um dia
muito conturbado e com um público específico sob forte emoção. Mas é um indício
também de que cenários novos podem surgir daqui até 2014.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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