25
de junho de 2013 | N° 17472
MARIO
CORSO - interino
Festival de
besteiras
Nos
anos 60, Stanislaw Ponte Preta lançou três coletâneas de fatos que eram piadas
prontas. Registrava o surto de burrice protagonizado pela ditadura no poder. Os
livros chamavam-se FEBEAPÁ, sigla de: Festival de Besteiras que Assola o País.
Lembro disso porque, novamente, uma parte do Brasil sente que vivemos uma época
de piadas de mau gosto.
Muita
gente se juntou às passeatas, mas o motor delas, o gatilho do movimento, são
jovens urbanos, bem informados, conectados às redes sociais. São pessoas mais
sensíveis a pautas sobre comportamento, ecologia e estilo de vida. Para eles,
certos fatos beiram o irreal e lhes dão a ideia de que o país está
emburrecendo.
As
mais óbvias, que dispensam comentários, são a cura gay e a bolsa estupro, mas
existem outras. A política de combate às drogas é falha, e recentemente foram
aprovadas medidas que aprofundam os equívocos anteriores, nos atrelando ao
modelo americano, que não dá certo nem lá.
É
esse mesmo pessoal que pede mais bicicletas e menos automóveis nas ruas, vê com
tristeza árvores sendo derrubadas para alargar engarrafamentos. Se irrita com o
crédito fácil para carros novos enquanto se usam os mesmos ônibus sucateados.
Não percebe nada de novo para os velhos problemas de mobilidade urbana. Jaime
Lerner disse que o carro é o cigarro do futuro e para essas pessoas esse futuro
já chegou. Não enxergam o carro como charme, mas como incômodo.
Esse
mesmo pessoal quer sair da caricatura do Brasil como país do samba e do
futebol, por isso não sente a Copa como sua. Ainda não sabem o que os
representaria como o novo caráter nacional, por enquanto apenas recusam a velha
marca. Pelo humor dos cartazes, eles não rejeitam a alegria do Carnaval nem o
coletivo do futebol. Apenas querem ser outra coisa.
É
claro que a crise se dá por uma questão de credibilidade, ninguém se sente
representado por nada. Ela é mais do que contra o governo, é contra o Estado
brasileiro, que se mostra surdo e corruptor. Mas esses movimentos também
representam o choque do novo contra o velho.
O
país urbano, jovem, laico, sonhador, querendo inovar, contra o Brasil
periférico, religioso, conservador e resignado. De um lado uma tentativa de
crescer em harmonia com a natureza, do outro o progresso a qualquer preço que
sempre foi praticado. Qual o seu lado?
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