terça-feira, 3 de setembro de 2013


03 de setembro de 2013 | N° 17542
 LUIZ PAULO VASCONCELLOS

Sobre o artista e o público

A perspectiva da realização artística exige autonomia, conhecimento e enfrentamento. Autonomia para criar a partir de uma percepção própria, conhecimento para transformar a intuição em linguagem, enfrentamento para transgredir os limites impostos pela mediocridade. Afinal de contas, a média é o mediano, e o mediano é o medíocre. Como disse o grande escritor Thomas Bernhardt, na arte, na verdadeira arte, não há perdão para os medíocres.

Se perguntarmos ao público o que ele quer ver amanhã, a resposta certamente será baseada na última experiência positiva que ele teve, ou seja, no que ele viu ontem. Desta forma, o espetáculo de amanhã será uma reprodução do que foi visto ontem, o que dará a esse mesmo público uma melancólica sensação de “déjà vu”.

Sustentar-se de uma profissão que é mais uma vocação do que uma profissão não é fácil. E não somente aqui, na província, mas em qualquer lugar do mundo. Meu querido amigo Tom Oliva, meu colega no mestrado em Artes Cênicas na State University of New York, é hoje um conceituado advogado na cidade de Nova York. É claro que em cidades com maior tradição cultural as coisas se tornam, se não mais fáceis, pelo menos mais definidas.

E as concessões, talvez, menos traumáticas, menos constrangedoras, menos dependentes dos mecanismos corporativistas e das pressões pela sobrevivência. Quando, porém, um produtor, para decidir sua próxima peça, e um artista, para criar seu próximo espetáculo, precisam adequar-se à média do gosto do público, aí a porca torce o rabo.

Porto Alegre é hoje o terceiro polo produtor de teatro do Brasil. Qualitativamente falando, nosso espetáculo está ao nível do que se faz de melhor no país. Basta assistir a espetáculos de Patrícia Fagundes, Inês Marocco, Daniel Colin, Camila Bauer, Jezebel de Carli, Camilo de Lélis, Dilmar Messias, Luciano Alabarse e tantos outros. Nossos atores tornam-se destaques nacionais tão logo lhes é dada uma oportunidade de mostrar a cara. Nossos diretores se impõem como pensadores e executores da linguagem cênica. E o Porto Alegre Em Cena – o melhor festival de teatro das Américas – está aí para provar tudo o que estou dizendo.


Para alcançar esta posição, foi necessário batalhar muito, aprender, errar, praticar, trabalhar, ensaiar, errar, ousar, errar de novo e reaprender tudo novamente. Mas, no final, podemos encher a boca e dizer: o ofício está aprendido. Saber transformar esse conhecimento em profissão – de preferência digna e rentável –, eis o desafio de agora e de sempre.

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