02
de setembro de 2013 | N° 17541
L. F. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Poetas
Ainda
não sabemos tudo sobre Marte, mas sabemos o bastante para dizer que ele nos
decepcionou. Marte foi um blefe. Os tais canais vistos pelas lunetas antigas,
provas de que haveria alguma forma de vida inteligente no planeta, mesmo que
fosse só de engenheiros, não eram canais.
Nenhum
vestígio de qualquer tipo de vida apareceu em Marte, muito menos o de uma
civilização de homenzinhos verdes, ou de qualquer outra cor, com a capacidade
para invadir a Terra. Anos e anos de literatura premonitória e previsões terríveis
foram desperdiçados. Nos apavoraram por nada. Como no Iraque, também não havia
armas de destruição em massa em Marte.
Mas
se Marte se revelou ser um imenso parque de estacionamento, que não ameaça a
Terra, isso não quer dizer que não existam civilizações lá fora que cedo ou
tarde entrarão em contato conosco, exigindo nossa submissão ou anunciando a
invasão.
Nada
nos assegura que, se ainda não fomos invadidos por exércitos extraterrenos, não
tenha havido – ou esteja havendo neste momento – missões de prospecção e
espionagem, feitas por destacamentos avançados ou por agentes isolados. Não
quero assustar ninguém, mas vou contar. Já tive contato com um desses agentes
extraterrestres. Desconfiei quando ele disse “Vocês são engraçados...” e eu
perguntei “Vocês”, quem? “Vocês” brasileiros? “Vocês” carecas? “Vocês” míopes?
Destros? Cardiopatas? E ele respondeu: “Vocês, gente”.
E me
confessou (já tinha bebido um pouco) que não era deste mundo, era de outro, e
estava prospectando o universo inteiro atrás de um planeta para ser colonizado
pelo seu. Achava que tinha, finalmente, encontrado esse planeta.
Era
a Terra. No seu relatório, recomendaria que a Terra fosse ocupada e sua
principal riqueza natural explorada, pois era o que faltava no planeta do qual
viera. Perguntei qual era a riqueza natural que nós tínhamos e eles não, e o
extraterrestre respondeu “A poesia”. E perguntou: “Você sabe que a Terra é o único
planeta do universo conhecido em que as pessoas dão nome aos ventos?”. Fiquei
lisonjeado com aquilo, pensando “Taí, somos todos poetas e não sabíamos” e
perguntei o que fariam com os poetas da Terra no planeta dele.
– Comê-los,
claro – respondeu ele.
E
explicou que não havia mais poetas no seu planeta porque já tinham comido todos.
Ou como eu imaginava que eles tinham se tornado uma civilização tão avançada?
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