02
de julho de 2012 | N° 17118
L. F.
VERISSIMO
Apreciadores e apaixonados
Pouca
gente “aprecia” futebol como se fosse uma obra de arte. “Apreciar” significa
distanciamento, um prazer puramente estético sem outro tipo de envolvimento. Quem
gosta mesmo de futebol geralmente gosta desde pequeno, e tem time.
É um
apaixonado, e um apaixonado não “aprecia”. Um apaixonado se envolve. E, vendo
esses jogos da Eurocopa, me ocorreu que o sentimento mais apaixonado, portanto
menos estético e mais genuíno, que se pode ter em relação ao futebol bem jogado
é o ressentimento.
Um
apreciador do futebol se encanta com uma trama do time espanhol que vem sendo
costurada lá de trás, no famoso toque-toque do Barcelona transformado em estilo
nacional, e que quase sempre acaba com um atacante concluindo dentro da pequena
área. Um apaixonado – principalmente se o seu time não estiver bem – se sente
afrontado pela trama perfeita. Seu pensamento é: se eles podem, por que o meu
time não pode?
Rancor
e inveja são os sentimentos mais verdadeiros de um apaixonado por futebol vendo
o bom futebol dos outros. Quanto melhor o futebol sendo visto, maior a revolta.
Onde estão o Xavi e o Iniesta do meu time? Por que um Schweinsteiger e um Pirlo
estão brilhando lá e não aqui no meu meio-campo?
O
toque-toque da Espanha não funcionou contra Portugal, o que nos encheu de
alegria. De certa maneira, o fracasso de grandes times desagrava a mediocridade
do nosso. Se Portugal pode parar a Espanha, é porque a perfeição não existe e
ainda temos esperança. A Alemanha que perdeu para a Itália na quinta-feira
lembrou a Alemanha da Copa da África do Sul, quando pintou como o grande time
do torneio num jogo e deu vexame no outro.
A
grande imagem do jogo Alemanha e Itália – e nisto o apreciador e o apaixonado
podem concordar – foi a do Balotelli depois de marcar o segundo gol italiano. Vítima
costumeira de insultos racistas, Balotelli arrancou a camiseta e ficou parado,
uma estátua dele mesmo numa pose de guerreiro africano, ostentando
desafiadoramente a sua negritude e seu orgulho até ser quase derrubado pelos
companheiros no festejo do gol.
No
meio da semana, houve o empate do Corinthians com o Boca em Buenos Aires e um
episódio que nos consola, já que só o futebol brasileiro é capaz de produzi-lo.
Um
tal de Romarinho, recém contratado pelo Corinthians, e que já fizera dois gols
no Palmeiras no domingo anterior, entrou quase no fim do jogo, fez o gol do
empate na sua primeira jogada e transformou-se num desses fenômenos instantâneos
que nos redimem. Já é um herói, já deve estar tratando dos seu primeiros
contratos publicitários e terá um grande futuro. Infelizmente no Corinthians, e
não no nosso time. Danação!
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