quarta-feira, 7 de novembro de 2012



07 de novembro de 2012 | N° 17246
PAULO SANT’ANA

Conversando com Deus

Eu sinto que tenho relacionamento com Deus.

Relação com Deus, eu já sabia que tinha.

Mas agora eu sinto que estou me relacionando intimamente com Deus.

Como é que eu sinto? Vou dar um exemplo: quando cai um objeto de minhas mãos no chão, apesar da minha terrível tontura incapacitante, eu me esforço, eu me esforço e ainda consigo com muito sacrifício juntar esse objeto.

Doem-me as pernas e os braços, as juntas, mas eu apanho no chão o objeto.

O que é que isto tem a ver com meu relacionamento com Deus? Tudo.

É que Deus tem sabido dosar o meu sofrimento. Ele sabe exatamente até onde eu posso suportar.

No dia em que eu não puder mais juntar o objeto do chão, terei morrido. E por enquanto ainda não é o que Deus quer. Deus, sinto, ainda tem planos para mim.

Sendo assim, a ração de sofrimento que Deus está designando para mim está no meu limite.

Se Deus apertar um pouco mais o torniquete, eu morro.

Assim como Deus nos dá ração de sofrimento, dá-nos também ração de felicidade.

Durante quantas vezes em minha vida (inúmeras), Deus me presenteou com tais êxtases de felicidade, que estive à beira de explodir, de morrer de felicidade?

Mas Deus teve controle e meu deu muitas vezes a dose-limite de felicidade que eu podia suportar.

Deus tem limites e conhece os meus limites.

O máximo que eu posso suportar é essa tontura incapacitante que tira a minha locomoção, que subtraiu toda a motricidade de meus nervos e músculos e que me faz seguir em frente somente na banguela.

Se passar daí, faleço.

Sob certo aspecto, é muito bom conviver com o sofrimento. Quer-me dizer que sou uma criatura viva, não sou um objeto, uma pedra, um martelo. Faz-me sentir humano, isto é, uma criatura de Deus.

Esse meu sofrimento é suportado pela esperança. Esperança de dias melhores. Pode ser que um dia um médico caído do céu diagnostique essa minha tontura. E acabe com ela em três dias.

É essa esperança que me mantém erguido. Se eu não tivesse essa esperança, já teria soçobrado, como soçobrou esses dias o Tatata Pimentel.

Quando pararem todos os relógios da minha vida e a voz dos necrológios gritar nos noticiários que morri, em torno de meu caixão quero que meus amigos comentem que ali diante deles está um homem que sofreu muito mas que também foi muito feliz.

Que curtiu profundamente os momentos felizes e que suportou com estoicidade e galhardia os cruentos sofrimentos.

Que teve instantes orgásticos de ventura e dias, meses, anos seguidos de cruciante padecer.

Isto, afinal, é ser homem. Isto, afinal, me diferencia dos batráquios.

Mas enquanto não para o meu coração, estou aqui a cada dia que o sol desponta à espera do que venha pela frente, seja um dilacerante martírio, seja uma felicidade incomparável.

Para isto, vim ao mundo, para sofrer ou para ser venturoso.

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