18 de novembro de 2012 | N° 17257
PAULO SANT’ANA
Mais
livre preso do que solto
Assombram o Brasil atualmente várias desordens que terminam
em assassinatos de policiais, de pessoas do povo e em incêndio de ônibus, em
diversas cidades do país.
E o mais assombroso é que as autoridades afirmam que esses
atentados são comandados de dentro dos presídios pelos detentos que cumprem
pena ou detenção.
É incrível o que acontece: põe-se um indivíduo na cadeia,
entre outros objetivos, para que ele deixe de se tornar perigoso atrás das
grades.
E incrivelmente ele continua sendo mais perigoso lá dentro
da prisão.
Um dos veículos mais importantes dessas desordens, portanto,
vem a ser o telefone celular.
Antigamente, um preso não tinha como se comunicar com o
mundo exterior, só o fazia pelas visitas ou por cartas.
Hoje, com o celular e o computador, o preso não tem
liberdade de ação fora dos presídios, mas exerce influência total de comando
sobre outros marginais em liberdade pelo celular.
E acontece, por exemplo, o seguinte, segundo o noticiário:
um preso obriga um marginal que está livre a matar pelo menos seis policiais.
Se não o fizer, os líderes da prisão irão em breve tomar providências para
assassiná-lo. O medo, portanto, leva o marginal ameaçado a cumprir as sentenças
emanadas da prisão.
Tudo tem sua origem naquela coisa que sempre falei nestes
anos longos em que escrevo: as condições precárias e infamantes das prisões.
O que me deixa estupefato é que homens respeitáveis, como,
por exemplo, o governador Tarso Genro, pregam que não devemos ter presídios
privados.
No entanto, o caos continua cada vez maior, sem nenhuma
solução à vista, com os presídios públicos.
Não se inova, nada se faz para tornar os presídios seguros e
impenetráveis ao convívio espúrio entre bandidos que estão presos com bandidos
em liberdade.
Eu, às vezes, chego a imaginar que as autoridades descuidam
assim dos presídios para que se cumpra a vontade da opinião pública, que em
massa deseja que os presos sejam maltratados e mortos nas prisões. Isso é o que
deseja a maioria das pessoas, tenho verificado pela correspondência que recebo.
As pessoas querem o mal físico e moral dos presos.
Será que não é a essa pretensão da sociedade que os governos
estão atendendo ao abandonarem os presídios à fome, ao assassinato, às doenças?
Chega ao ponto, em certas situações, de que presos têm mais
liberdade de ação para comandar crimes e desordens quando estão no fundo da
cadeia. Mais liberdade para o crime do que se estivessem soltos.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do PT, e o
ministro Dias Toffoli, do Supremo, ex-PT, declararam na semana passada, um que
preferiria morrer a cumprir pena num presídio brasileiro, o outro que os réus
condenados não deveriam ser recolhidos à prisão, deveriam somente ser multados.
Interessante é que ambas as autoridades só foram se
aperceber do caos prisional e fazer essas declarações depois que membros do PT
foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão.
Não viam antes isso? Só quando pisaram em seus calos?
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