Eliane
Cantenhede
Dirceu e
Genoino
BRASÍLIA
- Os destinos de José Dirceu e José Genoino cruzaram-se nos ares do julgamento
do mensalão.
Em
todos esses anos, réus, advogados, especialistas e até alguns ministros
ponderavam que "não havia uma só prova" contra Dirceu, mas Genoino
tinha assinado empréstimos fraudulentos como presidente do PT. O chamado
"batom na cueca".
O
destino de Dirceu era incerto e o de Genoino parecia selado. Mas, ao longo do
julgamento, só uma pessoa endossou essa impressão: o ministro Dias Toffoli, que
absolveu Dirceu e condenou Genoino por corrupção.
Apesar
dessas questões objetivas, sempre houve uma espécie de certeza íntima em
sentido contrário: ninguém acreditava que Dirceu não tivesse nada a ver com a
trama nem que Genoino tivesse atuação central.
Não
era e não é crível que o mensalão pudesse envolver partidos, parlamentares,
Banco do Brasil, Banco Rural, BMG, empresas de publicidade e Delúbio Soares sem
que Dirceu estivesse por trás, no comando, centralizando tudo desde a sua sala
na estratégica Casa Civil.
Com
Genoino, ocorre o oposto: ninguém, até na oposição, acredita que ele fosse
decisivo, maquinando, articulando viagens mirabolantes, ora ao Banco Central,
atravessando a rua e a prudência, ora para Portugal, cruzando oceanos.
Pesam
nessa percepção, além dos autos, as personalidades, histórias, estilos de vida
de um e outro. Dirceu é guerreiro, ambicioso, sem limites. Genoino é
conciliador, despojado, leva uma vida quase de professor.
Intimamente,
os demais ministros gostariam de fazer o contrário de Toffoli: condenar Dirceu,
pelo óbvio, e absolver Genoino, que era secundário. Só não o fizeram por causa
da assinatura, do batom na cueca.
O
ajuste veio na última hora, na definição dos anos na cadeia. Dirceu, o de fato,
foi condenado a regime fechado. Genoino, o de direito, a regime semiaberto.
Mais do que aritmética, prevaleceu o senso de Justiça aí.
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