sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Jaime Cimenti

Paródias e divertimentos de Umberto Eco

Diário mínimo é uma coletânea de excelentes divertimentos e paródias literárias do brilhante professor e escritor italiano Umberto Eco, nascido em Alexandria em 1932. Eco se destacou inicialmente como professor de semiótica na Universidade de Bolonha e por ter publicado títulos essenciais sobre sua especialidade.

Após estrear na ficção com o romance pós-moderno O nome da rosa, obteve incrível e inesperado sucesso de público e de crítica e publicou outros romances como O cemitério de Praga e O pêndulo de Foucault.

Hoje ele é considerado um dos escritores e pensadores mais vigorosos do mundo e, agora, neste Diário mínimo, com tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo e Sergio Flaksman, estão reunidos, pela primeira vez, em volume único, os textos originalmente publicados na revista Il Verri, entre 1959 e 1991. Umberto Eco emerge desta obra divertida como um articulista esplêndido, um contador de anedotas mordaz, um interlocutor espirituoso e um amante dos chistes e da paródia.

Mesclando perspicácia e erudição, com ironia crua e pastiches, Eco ataca o mundo acadêmico, as bizarrices do cotidiano, o labirinto da burocracia e até o design de objetos, entre muitas outros temas. Nada escapa da força das ideias do escritor e, atrás do humor ferino, está sempre um sofisticado jogo linguístico.

O fio condutor da maior parte dos textos é a indignação com preconceitos sedimentados e com a mediocridade. Numa crônica engraçada, Eco mostra como personagens responderiam à pergunta: como vai? Onan: “Satisfeito comigo mesmo”, Moisés: “Tirando os chifres.....”, Casanova: “Já estou chegando, meu bem”.

Algumas crônicas foram adaptadas para o teatro, outras ilustraram livros didáticos e, como escreveu o autor no prefácio, a paródia não deve jamais temer o exagero e deve prefigurar algo que, mais tarde, outros farão sem rir - e sem enrubescer - com firme e viril seriedade.

Enfim, os divertissement do conspícuo professor de semiótica servem, com seu tom cômico, para tratar de modo criativo temas por vezes excessivamente sérios, abrindo caminho para percepções e abordagens diferentes. Neste Diário mínimo, a paródia cultural é veneno e antídoto ao mesmo tempo e um dever intelectual de peso e responsabilidade.

Exemplo: num parecer de leitura para o editor sobre Finnegans Wake, de James Joyce, está escrito “por favor, peçam à redação que seja mais atenta quando enviar os livros para leitura.

Eu sou leitor de inglês, e vocês me mandaram um livro escrito em algum diabo de outra língua. Devolvo o volume em pacote à parte.” É isto.  Editora Record, 404 páginas, mdireto@record.com.br.

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