Jaime
Cimenti
Paródias e divertimentos de
Umberto Eco
Diário
mínimo é uma coletânea de excelentes divertimentos e paródias literárias do
brilhante professor e escritor italiano Umberto Eco, nascido em Alexandria em
1932. Eco se destacou inicialmente como professor de semiótica na Universidade
de Bolonha e por ter publicado títulos essenciais sobre sua especialidade.
Após
estrear na ficção com o romance pós-moderno O nome da rosa, obteve incrível e
inesperado sucesso de público e de crítica e publicou outros romances como O
cemitério de Praga e O pêndulo de Foucault.
Hoje
ele é considerado um dos escritores e pensadores mais vigorosos do mundo e,
agora, neste Diário mínimo, com tradução de Joana Angélica D’Ávila Melo e
Sergio Flaksman, estão reunidos, pela primeira vez, em volume único, os textos
originalmente publicados na revista Il Verri, entre 1959 e 1991. Umberto Eco
emerge desta obra divertida como um articulista esplêndido, um contador de
anedotas mordaz, um interlocutor espirituoso e um amante dos chistes e da
paródia.
Mesclando
perspicácia e erudição, com ironia crua e pastiches, Eco ataca o mundo
acadêmico, as bizarrices do cotidiano, o labirinto da burocracia e até o design
de objetos, entre muitas outros temas. Nada escapa da força das ideias do
escritor e, atrás do humor ferino, está sempre um sofisticado jogo linguístico.
O
fio condutor da maior parte dos textos é a indignação com preconceitos
sedimentados e com a mediocridade. Numa crônica engraçada, Eco mostra como
personagens responderiam à pergunta: como vai? Onan: “Satisfeito comigo mesmo”,
Moisés: “Tirando os chifres.....”, Casanova: “Já estou chegando, meu bem”.
Algumas
crônicas foram adaptadas para o teatro, outras ilustraram livros didáticos e,
como escreveu o autor no prefácio, a paródia não deve jamais temer o exagero e
deve prefigurar algo que, mais tarde, outros farão sem rir - e sem enrubescer -
com firme e viril seriedade.
Enfim,
os divertissement do conspícuo professor de semiótica servem, com seu tom
cômico, para tratar de modo criativo temas por vezes excessivamente sérios,
abrindo caminho para percepções e abordagens diferentes. Neste Diário mínimo, a
paródia cultural é veneno e antídoto ao mesmo tempo e um dever intelectual de
peso e responsabilidade.
Exemplo:
num parecer de leitura para o editor sobre Finnegans Wake, de James Joyce, está
escrito “por favor, peçam à redação que seja mais atenta quando enviar os
livros para leitura.
Eu
sou leitor de inglês, e vocês me mandaram um livro escrito em algum diabo de
outra língua. Devolvo o volume em pacote à parte.” É isto. Editora Record, 404 páginas, mdireto@record.com.br.
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