11 de novembro de 2012 |
N° 17250
MARTHA MEDEIROS
Falar em público
Uma amiga me pede socorro: foi
convocada a falar por 20 minutos num evento profissional, ela que nunca
palestrou ou participou de qualquer debate com plateia. Está assustada e me
pede uns truques para combater o nervosismo. Sei que há cursos de oratória para
ajudar as pessoas a relaxarem nessas situações, mas não há tempo hábil para
tomar aulas. O evento é pra já a essa altura, já foi, inclusive.
O que se diz a uma amiga nessa
hora? Procure ter segurança sobre o conteúdo da sua fala, não se preocupe com o
que os outros estão pensando (eles também não estariam à vontade no seu lugar)
e, principalmente, tenha consciência de que uma palestra é só uma palestra, não
serão por esses 20 minutos que você será avaliada no Juízo Final.
Mas é fácil falar. Melhor
dizendo: não é fácil falar, não em frente a outras pessoas. Depois de anos de
prática, hoje em dia já não me estresso, mas, no início, madrecita, era um
castigo. A boca secava num grau que me impedia de articular as palavras com
desenvoltura.
No meio da conversa, eu ficava em
pânico com a possibilidade de perder o fio da meada, e acabava perdendo, claro.
Tinha pavor de estar sendo analisada pelo que estava dizendo, e mais ainda pelo
que não era o assunto em pauta: minha excessiva gesticulação, por exemplo.
Sempre falei rápido, e nessas
ocasiões, aí é que virava uma metralhadora: tinha pressa em acabar logo com
aquilo. E havia a tosse. Assim como as pessoas sentem compulsão de tossir
durante peças de teatro, eu, lá pelas tantas, começava a sentir a garganta
arranhar e a expectoração tinha início.
Na maioria das vezes, eram
pigarros inocentes, mas teve uma vez em que estava dando uma entrevista, não
lembro se para o Lauro Quadros ou para a Tânia Carvalho, e tivemos que
encerrá-la por absoluta incapacidade de eu seguir adiante. Vexame, vexame.
Algumas pessoas se sentem mais
seguras se há algum conhecido no recinto: a esposa, o marido, um colega. Eu, ao
contrário, me sinto mais tranquila – ou menos aflita – diante de estranhos.
Sempre me apavorou a ideia de
decepcionar meus afetos mais íntimos. Logo, pode-se imaginar o meu estado de
nervos quando, em 1999, recebi uma homenagem da Câmara dos Vereadores e na
plateia se encontrava pai, mãe, irmão, cunhada, madrinha, tias e todas as melhores
amigas: a máfia reunida. Na hora de agradecer os discursos feitos em plenário,
falei por cronometrados dois minutos, nem um segundo a mais – e entre gaguejos.
Vexame, vexame, vexame.
Não era timidez, e sim
imaturidade. Não tolerava a ideia de errar, o que é uma autoexigência absurda.
Ora, erramos. Trememos. Dizemos bobagens. Não somos doutores em nada, e sim
pessoas esforçadas, o que já é um valor.
Se alguém tem interesse no que
temos a dizer, isso, por si só, já deveria tranquilizar: estamos apenas
atendendo a um gentil convite para dividirmos nossa opinião e nosso
conhecimento com os outros. Palco, púlpito e microfone são intimidantes, mas
não passam de instrumentos para facilitar a comunicação. O segredo, que nem é
segredo, é procurar se divertir e não levar esses poucos minutos de
visibilidade tão a sério.
Minha amiga acabou se saindo
muito bem. Já esqueceu o sofrimento e está pronta para outra. Sabia. Depois que
os fantasmas são exorcizados, a vida destrava.
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