terça-feira, 13 de novembro de 2012



13 de novembro de 2012 | N° 17252
PAULO SANT’ANA

A máscara da face

Podemos disfarçar que amamos. Podemos disfarçar que estamos odiando.

A criação pôs à nossa disposição inúmeros disfarces. Não só podemos ser outra pessoa como até somos capazes de ser diversas pessoas.

Para tanto, fomos equipados com o fingimento. Conheço pessoas que fingem estar tendo orgasmo e já soube de casos de pessoas que têm orgasmo e fingem que não estão tendo. Todo disfarce tem por trás um interesse.

Há uns que fingem que amam. Juram de pés juntos, ajoelhados, que estão amando. E não estão. O ser humano pode ser muito falso.

O Zé Dirceu jura que não tem nada a ver com o mensalão, que nunca tomou conhecimento de uma só ação do mensalão, e a prova dos autos levou o procurador-geral da República a escrever no seu libelo que o Zé Dirceu era o chefe da quadrilha.

Eu já vi gente fingir que era gremista. E, no entanto, pulsava dentro do seu peito um coração colorado.

Há pessoas que passam 40 anos jurando que amam alguém e no fundo o que acontece é que odeiam esse alguém.

Tudo porque o sentimento não é um riacho de águas límpidas. O sentimento se oculta, ele pode se manifestar de uma forma completamente diferente do seu verdadeiro conteúdo.

Se trouxéssemos estampado na face o que realmente sentimos, a vida seria muito mais difícil para nós.

Seria muito mais fácil para os juízes julgar os réus se estes não tivessem a possibilidade de mentir.

Se até a história mente, como não haveria o homem de mentir? Se se perguntar a todos qual foi o maior político brasileiro, qual foi o maior estadista, a resposta será só uma: Getúlio Vargas.

No entanto, a polícia política do ditador Getúlio Vargas foi comandada por Felinto Muller, um carniceiro. Nas masmorras da ditadura de Vargas, as unhas e os dentes dos presos eram arrancados em torturas medievais.

Além disso, quando da II Guerra Mundial, o ditador Getúlio Vargas decretou simplesmente o confisco de todas as propriedades e outros bens de origem honesta de pessoas estrangeiras que viviam estavelmente no Brasil, um crime horrendo. Só por serem estrangeiras.

E, no entanto, Getúlio Vargas é endeusado pela memória nacional e considerado o melhor e maior homem público da história política brasileira.

Se a História não arranca a máscara da face de tantas pessoas, imagina o nosso relacionamento comum: bilhões de pessoas se fazem passar por outras. É mau posando de bom, é falso posando de legítimo, é cruel posando de terno.

A natureza humana se permite esses disfarces, por isso há tantas dúvidas sobre o que é falso e o que é verdadeiro.

É por isso que todos nós nos decepcionamos com tanta gente e até mesmo tanta gente acaba se decepcionando conosco.

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