14 de novembro de 2012 |
N° 17253
EDITORIAIS
A Explosão da Vilência
Os atentados registrados nesta
semana na Grande Florianópolis e em Blumenau confirmam os indícios de que a
radicalização da violência, iniciada em São Paulo, começa a se alastrar para
outras cidades, com a mesma tática de afronta às forças de segurança. Também no
Rio Grande do Sul, já foram interceptados sinais de que bandidos trocam
informações sobre possíveis atentados contra policiais, com o objetivo de
abalar moralmente quem está na linha de frente do combate ao crime.
Na capital paulista, os ataques
foram subestimados pelo governo do Estado até bem pouco tempo, apesar do
registro de mais de 10 assassinatos por dia. A lenta capacidade de reação, que
retardou a adoção de medidas em conjunto com a área federal, é um exemplo do
que Santa Catarina e o Rio Grande do Sul não podem fazer no enfrentamento da
delinquência organizada.
O fato de que facções comandam os
atentados não é novidade para as autoridades em nenhum dos Estados atingidos. O
que se apresenta como um desafio cada vez mais complexo é a transformação das
próprias polícias em alvo preferencial. Agindo de dentro das cadeias, líderes que
deveriam estar incomunicáveis comandam ações cada vez mais agressivas. Está
claro que as quadrilhas agem dessa forma para testar diretamente os aparatos de
segurança.
Não há como negar que em São
Paulo a intenção foi bem-sucedida. São muitas as causas já identificadas nos
ataques, e algumas são constrangedoras para o setor público. Além da retaliação
que mobiliza as facções contra policiais considerados matadores de
quadrilheiros, há os componentes das relações promíscuas entre agentes e
delinquentes, da incapacidade de imobilizar chefes de bandos recolhidos aos
presídios e das deficiências dos serviços de inteligência.
A própria Secretaria de Segurança
encarregou-se de divulgar, em Santa Catarina, que sabia da troca de mensagem,
por celular, sobre a evolução de um plano de incendiar coletivos, o que acabou
se confirmando – mas a interceptação do comunicado ocorreu ao acaso. O que há
em comum entre o caso catarinense, os episódios de São Paulo e a suspeita de
articulação de um atentado a policiais gaúchos é a explicitação do atrevimento
da criminalidade, que parece não temer as instituições.
São agredidos, além das polícias,
o Ministério Público, a Justiça, o sistema penitenciário e, evidentemente, os
governantes. Nesse sentido, é importante atentar para a advertência feita ontem
pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de que a União, os Estados e os
municípios devem assumir em conjunto o enfrentamento da guerra urbana
organizada a partir das cadeias, sem jogo de empurra e sem confrontos políticos.
O crime organizado, lembrou o
ministro, não mais é local, mas nacional, com articulações entre quem trafica
drogas e armas, sequestra, assalta bancos. A imitação do que acontece em São
Paulo ameaça alastrar pelo país um fenômeno revelador da profissionalização da
criminalidade, das conexões entre presos e bandidos em liberdade e, o que é
pior, da precarização das estruturas e dos controles de segurança. É dever das
instituições reagir com determinação ao insulto e às suas próprias
deficiências, ou as cidades correrão o risco de sucumbir ao controle da
bandidagem.
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