19 de novembro de 2012 |
N° 17258
PAULO SANT’ANA
Custa caro a insensibilidade
Não me sai da cabeça, diante
desses atentados acontecidos em São Paulo e Santa Catarina, comandados por
detentos de dentro da prisão, o estranho enigma de que os criminosos tenham se
tornado mais perigosos na reclusão do que soltos.
De qualquer forma, vai avançando
a consciência de que, ao lado da questão da saúde, os governos vão ter de
voltar recursos vultosos para a questão penitenciária, esquecida há quase um
século pelo poder público.
Antes, vejam bem, os presos eram
depositados nas cadeias, penando e morrendo lá e ninguém aqui fora, mormente a
opinião pública, se importando com o que estava acontecendo com eles.
Agora, com presos comandando de
dentro da prisão atentados nas ruas, nota-se em importantes escalões do poder
que é necessário melhorar as condições dos presídios para que haja mais
segurança nas ruas.
Clamei em mais de 80 colunas que
quanto piores fossem as condições dos presídios mais grave se tornaria a
segurança pública nas ruas.
Nunca me deram bola. Agora vão
ter de dar.
É que sempre se achou que se
fossem os presos apartados da sociedade no recolhimento para trás das grades,
tudo estaria resolvido, mesmo com as péssimas condições dos presídios.
Agora se vê que não é bem assim.
Lentamente, os omissos têm sua atenção chamada para o fato de que os presos são
parte da sociedade e o descaso com eles repercute desfavoravelmente aqui fora,
tornando os detentos tão perigosos quanto se estivessem soltos.
O fato que ninguém entende é que
só com presídios seguros e que tratem dignamente os presos se obterá segurança
para os cidadãos nas ruas.
Esse raciocínio é muito difícil
de entender, mas aos poucos ele terá de ser entendido.
Esse apartamento histórico e
singular dos presos com a sociedade chegou ao cúmulo de comunidades inteiras se
voltarem contra a construção de presídios dentro de seus territórios.
“Presos aqui em nosso município,
não, que eles sejam mandados para outros lugares”, bradavam os apartistas.
Mas para que outros lugares?
A sociedade tem de conviver
intimamente com suas chagas, com os presos, com os doentes, com os seus
miseráveis.
As gangrenas sociais pertencem a
toda a sociedade. Ela tem de assumir suas feridas.
Dizem que não se constroem
presídios porque eles não dão votos. Mas a segurança pública, esta agora
começou a render votos.
Só que não se consegue segurança
pública satisfatória sem presídios seguros e dignos para a condição humana dos
presos.
Eu desafio há 41 anos em minha
coluna a opinião pública, que desprezou sempre a minha opinião em defesa dos
presídios dignos.
Agora a sociedade começa a pagar
por seus erros.
Mas no fim do túnel começou a
surgir a luzinha: só se é seguro nas ruas se houver presídios seguros.
Esse raciocínio me parecia tão
singelo, no entanto é muito difícil ele penetrar na cabeça do público.
E no dia que penetrar, os
governos se apressarão em dotar a sociedade de cadeias humanas, que prendam
severamente mas que não arrebentem.
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