RUTH
DE AQUINO
O que 20 anos fizeram com Zé
Dirceu?
1992,
texto escrito pelo deputado federal José Dirceu de Oliveira e Silva, membro da
CPI de PC Farias, na orelha do livro Todos os sócios do presidente, dos
jornalistas Gustavo Krieger, Luiz Antonio Novaes e Tales Faria:
“A
Comissão Parlamentar de Inquérito do caso Paulo César Farias pertence ao país,
particularmente à juventude. Não teria sido possível sem democracia. Pela
primeira vez na história do Brasil, esse sentimento de revolta contra a
impunidade encontrou eco no Parlamento e cresceu até tomar conta de todo o
país. A CPI só saiu do papel graças à pressão da sociedade organizada e às
denúncias da imprensa, que deram sustentação à luta quase quixotesca que
parlamentares travavam contra a corrupção no governo federal.
A
CPI revelou que o chefe da corrupção era o próprio Collor, envolvido em fatos
incompatíveis com o cargo de presidente da República, recebendo vantagens
econômicas ao longo de seu mandato, para si e seus familiares, através do
esquema criminoso de PC.
Mais
grave ainda é que tudo isto foi possível porque recebeu o apoio de grande parte
do empresariado brasileiro, o que revela o grau de decomposição ética das
elites brasileiras, acostumadas à impunidade e ao assalto aos cofres públicos.
Por tudo isso, não basta a CPI, é preciso que seu espírito tome conta do país.
A verdade é que nosso povo novamente está caminhando. Está tecendo o fio da
história, retomando a luta por dignidade e justiça, pela cidadania”.
2012,
texto no blog escrito pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, réu condenado
no escândalo do mensalão por corrupção ativa e formação de quadrilha, obrigado
a entregar seu passaporte. Dirceu foi incluído pelo STF no Sinpi (Sistema
Nacional de Procurados e Impedidos): “A decisão do relator Joaquim Barbosa de
apreender os passaportes é puro populismo jurídico e uma séria violação aos
direitos dos réus ainda não condenados. (…) Os argumentos (de Barbosa) cerceiam
a liberdade de expressão e são uma tentativa de constranger e censurar”.
Dirceu
insiste que sua condenação foi baseada em indícios, diz que nunca fez parte nem
chefiou quadrilha e que “as reuniões na Casa Civil com representantes de bancos
e empresários são compatíveis com a função de ministro e, em momento algum,
como atestam os testemunhos, foram o fórum para discutir empréstimos”.
Diz
que foi condenado como mentor de um esquema financeiro apenas “por ser
ministro”. No caso Collor, ele não poupava elogios à imprensa. Hoje, quer
transformar os jornalistas em vilões
E a
imprensa brasileira, digna de elogios e salamaleques de Dirceu em 1992? Se, na
visão do idealista Dirceu de 20 anos atrás, “a CPI só saiu do papel graças à
pressão da sociedade organizada e às denúncias da imprensa”, por que hoje os
jornalistas seriam os vilões da história? Por que Dirceu acusa a mídia de
instigar o “clamor popular” pela condenação dos réus do mensalão? Por que
Dirceu continua empenhado em defender a regulação da mídia como “uma das
principais metas a ser conquistadas pelo Partido em 2013”?
Por
que Lula se disse “traído” em 2005 e expulsou o tesoureiro Delúbio Soares? Lula
se sentia traído por quem? Por seus companheiros? Que companheiros? Traído pela
mídia, que saudou com orgulho a transição democrática de FHC para o primeiro
operário presidente do Brasil? A mídia que publicou perfis laudatórios de Luiz
Inácio Lula da Silva e torceu por uma política com ética e sem corrupção – a
maior bandeira do PT, junto ao combate à fome e à miséria?
Por
que Dirceu foi o primeiro a deixar o ministério de Lula, dez dias depois de o
mensalão ser denunciado pelo deputado Roberto Jefferson? Se era inocente, por
que saiu, saiu por quê? Ao se despedir, disse que, na Câmara, poderia
esclarecer as “denúncias infundadas” contra ele. Prometeu “percorrer o Brasil
como militante dirigente para combater os que querem desestabilizar o governo
Lula”. O governo que Dirceu chamou de “minha paixão e minha vida”.
“Tenho
as mãos limpas. Sei lutar na planície e no Planalto. Não me considero fora do
governo. Eu me considero parte integrante do governo.” Essas foram as palavras
de Dirceu ao sair do gabinete há sete anos, abrindo o caminho para uma então
improvável candidata à continuidade, Dilma Rousseff. Dirceu repetiria essas
palavras hoje. Nisso, é coerente.
Se o
PT, em seu estatuto, se compromete a expulsar os condenados por práticas
ilícitas e improbidade administrativa – mas nada faz –, temos hoje no Brasil
muito mais que um confuso cálculo de sentenças.
Temos
um impasse entre os Poderes Executivo e Judiciário: ou o governo expulsa Dirceu
ou desafia o STF. Para o PT, o melhor seria Dirceu submergir em férias na
Bahia, já que Caribe e Cuba estão fora de cogitação.
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