sábado, 10 de novembro de 2012



11 de novembro de 2012 | N° 17250
QUASE PERFEITO | Fabrício Carpinejar

Malabarista de motéis

Tenho 30 anos, sou casado há seis com a mãe de dois garotinhos; namoro há três com uma mulher linda e, no momento, estou altamente balançado por uma advogada grávida de gêmeos. Estou sem saber o que faço. Meu casamento, meu namoro e o novo lance. Às vezes penso em internação. Algo do tipo: viciado em mulher para tratamento por 90 dias. Também penso que este sou eu e ponto final. Abraço forte! Roberto”

Querido Roberto,

Não se interessa em se aprofundar num relacionamento, mas conciliar vidas diferentes e mostrar que é capaz de cuidar de um harém como ninguém. Quanto maior a dificuldade e desencontro de horários, mais poderoso e viril você se sente. Um malabarista de motéis. Um executivo da intimidade.

O jeito que conta sua história não é triste, como se fosse um problema ou uma tragédia a resolver. Por baixo dos panos, elogia a própria versatilidade, o método de organização, a disciplina dos segredos, o aproveitamento do tempo.

Descreve sua rotina de três mulheres com descarado orgulho, com a naturalidade de um sultão. Não está pedindo um conselho, mas se vangloriando do excesso de opções, notou?

É óbvio que está completamente equivocado, e nem um pouco ressentido e disposto a alterar sua natureza compulsiva.

Recomenda sua internação de brincadeira, adotando o status de viciado em sexo. Algo como “me interna, não tenho conserto, sou mulherengo”. Está desligado do que as namoradas vêm pensando ou sofrendo. Não tem empatia com o dilema, crise de consciência, censura moral.

Vive na superfície, absolutamente desinteressado das notícias do fundo e de suas reais intenções. É uma superioridade que esconde fraquezas e medos.

A onipotência é um traveco. Você apresenta um lado feminino excessivamente acentuado que tenta abafar com um excesso de macheza. A caricatura disfarça a delicadeza dos traços.

Eu queria ver se fosse contigo. Se fosse traído pela sua esposa e cuidasse dos dois filhos enquanto ela se divertia com o outro, ou se fosse o pai dos gêmeos da amante que procura diversão com um terceiro.

Este é você, vírgula.

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