ROGÉRIO GENTILE
O
poder de Rosemary
SÃO PAULO - Não é da tradição do jornalismo brasileiro
tratar da vida privada dos políticos. Diferentemente do que ocorre nos EUA e em
outros países, opção sexual, amantes, bebedeiras e uso de drogas não são
normalmente considerados como assuntos para reportagens.
O entendimento muda se o sujeito mistura sua vida particular
com a profissional. Um prefeito, por exemplo, que nomeie a sobrinha para um
cargo público pode acabar virando notícia. O mesmo ocorre com um secretário de
Segurança que frequente a casa de um chefe de quadrilha.
Na sexta passada, a PF indiciou, por suspeita de corrupção e
tráfico de influência, a assessora Rosemary Noronha. Ex-secretária do PT, foi
nomeada no governo Lula para o cargo de chefe de gabinete do escritório da
Presidência em SP e rodou o mundo a serviço do Planalto, viajando com o então
presidente para 23 países.
Acumulou tanto poder que conseguiu, inclusive, emplacar
diretores em agências reguladoras mesmo quando havia resistência no Congresso. Em
situação incomum, o Senado aprovou um nome indicado por Rose que vetara quatro
meses antes.
Há anos especula-se nos corredores do governo sobre a origem
do seu poder, zum-zum-zum que cresceu agora com a ação da PF. Em editorial, o
jornal "O Estado de S. Paulo" disse que sua influência "derivava
diretamente de sua intimidade com Lula".
Diante da gravidade das acusações da PF, Lula deveria dar
explicações sobre sua antiga assessora. Ela tem qualificações para o cargo que
ocupava? Quais eram suas atribuições nas viagens e por que ganhou passaporte
diplomático? E como conseguiu dobrar o Senado?
Dilma, que a deixou no cargo até sábado, também deveria
prestar esclarecimentos. Se a função de Rose era tão importante, por qual razão
a presidente simplesmente extinguiu o seu cargo após as revelações da PF?
Sem explicações convincentes, resta uma questão: Lula
misturou sua vida privada com a pública?
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