12
de novembro de 2012 | N° 17251
L. F.
VERISSIMO
Multidões
Em
Lisboa e Londres você pode escolher a multidão que quer seguir: a que está indo
para mais uma manifestação contra o governo e suas medidas de austeridade, ou a
que está indo para o Bairro Alto de Lisboa e o Soho de Londres, para encher
suas ruas, seus bares e seus restaurantes.
Claro
que uma multidão não desautoriza a outra. Você pode mesmo aderir às duas sem se
contradizer. Nem o movimento no Bairro Alto e no Soho (só para pegar dois
exemplos que devem se repetir em outros países como a Espanha e até, imagino, a
Grécia) desmente a crise, nem a crise impede as pessoas de se divertirem, até para
não pensar muito nela.
E não
se deve esquecer que boa parte das pessoas que pulam de tasca em tasca no
Bairro Alto e transbordam dos pubs no Soho são turistas, em férias da
realidade, qualquer realidade. Seja como for, o Marciano Hipotético que
descesse no meio dessas multidões teria dificuldade em fazer seu relatório
sobre o que viu. Todo o mundo revoltado ou todo o mundo alienado? Ou, em
linguagem de marciano, fifti-fifti?
Django
Existem
algumas homenagens musicais feitas a músicos, memoráveis. Se poderia mesmo
fazer uma lista das melhores, e fatalmente esquecer algumas. Tanto o Gerry
Mulligan quanto o Ivan Lins homenagearam o Tom Jobim, o Ivan com Rio de Maio,
uma bela evocação do Tom e do Rio outonais, e o Mulligan com Tema para Jobim,
uma melodia digna do próprio homenageado. O saxofonista e compositor Benny
Golson fez uma sentida homenagem a Clifford Brown, trompetista que morreu com 24
anos, na sua linda I remember Clifford.
Mas
poucas homenagens musicais tiveram a força e a repercussão da que o pianista
John Lewis compôs para o Quarteto de Jazz Moderno, chamada Django. Foi um dos
primeiros sucessos do quarteto, e homenageava o guitarrista belga de origem
cigana Jean “Django” Reinhardt.
Mais
do que qualquer outro músico da sua época e lugar, os anos 30 e 40 em Paris,
Django – que morreu em 1953 – transformou-se em mito, e é cultuado até hoje. Ele
tinha perdido os movimentos de três dedos da sua mão esquerda, o que o obrigara
a desenvolver um estilo próprio inimitável.
Em
Paris, está havendo uma exposição sobre sua vida e sua obra na Citê de la
Musique. A exposição inclui aquele filme que o Woody Allen fez com o Sean Penn
sobre o guitarrista que idolatra Django e que, quando finalmente o encontra em
pessoa, desmaia. Vimos um concerto em homenagem a Django no auditório da Citê. Um
grupo americano, com um convidado especial na guitarra. O neto de Django. O
legado está em boas mãos.
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