19 de novembro de 2012 |
N° 17258
L. F. VERISSIMO
“M” de mãe
Depois do penteado que os irmãos
Coen lhe arrumaram para o filme Onde os Fracos não Têm Vez, era difícil
imaginar coisa pior na cabeça do Javier Bardem. Mas em Skyfall, o último 007,
ele usa uma cabeleira loira que escorre pela nuca e supera a anterior. Bardem
ganhou um Oscar com a cabeleira dos irmãos Coen, é bem provável que ganhe outro
com esta. Porque desde que entra em cena ele toma conta do filme.
É certamente o melhor da longa
lista de vilões excêntricos e megalomaníacos da série, o primeiro de
sexualidade indefinida e o primeiro, desde que a Judi Dench começou a ser “M”,
chefe do serviço secreto inglês, a tornar explícita a relação edipiana dos
agentes com ela. Bardem é um ex-agente desgarrado que quer se vingar por ter
sido abandonado por “M” e ao mesmo tempo destruir o serviço secreto.
Bond é o filho favorito que
perdoa “M”por quase tê-lo matado e a defende da vingança do outro. No fundo,
uma reedição da parábola do filho preferido e do filho réprobo, antiga como o
mundo.
Espero não estar estragando o
filme para quem ainda não o viu, mas Judi Dench deve ter dado um ultimato aos
produtores: só faria mais este no papel de “M”, mas sairia de cena em grande
estilo. Em nenhum outro filme da série, mesmo quando “M” ainda era homem, o
personagem teve tanto destaque e foi tão decisivo na trama.
A sequência final de Skyfall,
mais inverossímil do que qualquer outra num filme cheio de desafios às leis da
probabilidade e da gravidade, é, no entanto, um desenlace perfeito para o drama
edipiano. Bardem e Dench abraçados, têmpora contra têmpora, ele propondo que os
dois se matem com a mesma bala, é uma cena sem precedentes na história da série
– mesmo levando-se em conta que desde que Daniel Craig assumiu o papel
principal as histórias têm ficado mais densas.
Sam Mendes não deve ter hesitado
em dirigir Skyfall depois de ler o roteiro, o filme não fará nenhum mal ao seu
currículo.
No fim de Skyfall, um homem volta
a dirigir o serviço secreto inglês, inclusive com uma secretária chamada
Moneypenny, como no começo da série. É uma espécie de restauração. A era da
Judi Dench como “M” foi divertida, mas quem sabe para que atoleiros psicológicos
nos levariam as implicações da relação de Bond com sua chefe, agora que se sabe
que “M” era de “mãe”?
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