quinta-feira, 29 de novembro de 2012



29 de novembro de 2012 | N° 17268
J. A. PINHEIRO MACHADO

Verissimo e o Pato Macho

O primeiro número do Pato Macho foi lançado em 14 de abril de 1971, sob o comando do editor-chefe Luis Fernando Verissimo e dos editores Coi Lopes de Almeida, Cláudio Ferlauto, Carlos Nobre, Sérgio Arnoud e Assis Hoffmann. “Que loucura!” era o título do editorial de estreia, com um voto de desconfiança aos “velhos” de mais de 30 anos:

“Dos nossos diretores e principais redatores só dois – Luis Fernando Verissimo e Carlos Nobre – ultrapassaram a barreira dos 30, mas ambos nos asseguram que ainda têm dois ou três anos de raciocínio produtivo antes que a esclerose os transforme em medalhões” – dizia o texto.

Se o jornal era cáustico assim com seus próprios dirigentes, imagine com os inimigos. Represálias, é claro, não tardariam.

Eram os tempos de ditadura para valer, com o Ato 5 novinho em folha e o DOI-Codi cheio de horror pra dar. Apesar disso, o Pato foi crescendo com acréscimos notáveis: Phileas Fogg (pseudônimo que Maurício Sobrinho buscou em Julio Verne para o perseguido Josué Guimarães), José Onofre, Jeferson Barros, Tatata Pimentel, Ruy Ostermann, Divino Fonseca, Roberto Appel, Rogério Mendelski, Ibsen Pinheiro, Roberto Manera, Carlos Stein, D’Arrigo, Sergio Rosa, Celente, Werner Becker, Polydoro, o meu irmão Ivan (que tinha uma medalha: fotografara a então gatinha Rita Lee), e tantos outros talentos que dedicaram seu tempo, seu dinheiro e sua própria segurança ao jornal mais contestador e mais desbocado que o Rio Grande já viu. A redação se divertia mais do que os leitores.

O jornal crescia em prestígio e possibilidades, e começou a se estruturar melhor. O time de colaboradores brilhava. O Luis virou diretor e me convidou para editor-chefe. Mas logo pagamos o preço da liberdade: veio o decreto de censura prévia, ganhei a tarefa humilhante de submeter as páginas prontas à polícia. Em seguida, o Pato começou a definhar.

Com a censura, o poder submeteu o Pato e outros jornais alternativos à mesma lenta asfixia: restringia-se a matéria publicada, caía a qualidade, o público se desinteressava, a venda avulsa diminuía, os anunciantes ficavam intimidados e a publicidade chegava a zero. Lembro de um censor, proibindo a gravura antiga da estátua de uma deusa grega com seios à mostra, em nome da moral, pois era “marido exemplar e pai extremado”. No Carnaval da Cabana do Turquinho, foi visto bêbado, com colar havaiano, sambando abraçado a duas odaliscas. O Pato Macho morreu sem publicar essa foto de um de seus assassinos.

O Luis Fernando proporcionou ao Pato, além de trabalho, talento e empenho, também o nosso quartel-general: durante muito tempo sua própria casa serviu de sede, com o apoio da Lúcia, da dona Mafalda e do Erico (que absolviam nossas loucuras com sorrisos solidários). Essa disposição incondicional, generosa e corajosa transparece nos textos impecáveis com que o Luis, há tantos anos, faz brilhar este espaço do jornal.

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