25
de novembro de 2012 | N° 17264
MARTHA
MEDEIROS
As incríveis Hulk
Lamento
ser portadora de más notícias, mas o tempo faz você alargar. Apenas isso
Você
nunca pensou em fazer cirurgia nos seios, nem para aumentá-los, nem para reduzi-los,
pois está satisfeita com eles do jeito que são e não sente necessidade de
transformar nada, ainda mais que já atingiu meio século de existência.
Mas
uma transformação aconteceu à sua revelia. Eles aumentaram um pouquinho de
tamanho. Você não está grávida, naturalmente. Aconteceu. E, pensando bem,
ficaram mais bonitos. E mais pesados, um perigo, você sabe por quê. Mas a vida
segue.
Um
dia você está no trabalho e sente um desconforto. Não entende bem a razão. Quando
chega em casa, sente a compulsão de tirar o sutiã. Anda pela casa com tudo
solto, seu marido acha que você está tendo uma recaída hippie, mas deixe ele
pensar o que quiser. Consigo mesma, você dialoga: será que andei comprando um número
menor do que costumo usar?
Passam
as semanas e de novo a sensação de aperto. Não consegue mais atravessar o dia
inteiro de sutiã, mesmo usando alguns muito confortáveis. Secretamente, você começa
a usar os seus sutiãs mais velhos, aqueles que já estão meio folgados. Só quando
há a promessa de uma noite de amor é que troca por um belo sutiã de renda bem
justo, e na hora em que ele é aberto pelo felizardo com quem divide os lençóis,
você solta um gemido de prazer antes da hora.
Hum.
Tem alguma coisa estranha aí.
Você
descobre o que é no dia em que recebe de presente uma camiseta de manga
comprida. Tamanho médio, não tem erro, você usa o tamanho médio desde os 15
anos. Você a veste e está tudo ok, ela escorrega pelo tórax, e tem o
cumprimento ideal. Se você for como eu, vai sair com o presente já no mesmo dia
em que o recebeu.
Sou
do tipo que compra uma roupa numa loja e saio usando, não espero ocasiões
especiais. Então, você usa a camiseta que ganhou no mesmo dia também, até que,
durante o encontro com as amigas à tardinha, sente uma compressão no bíceps,
igualzinho a quando seu marido a agarra enciumado para levá-la embora da festa.
Na
hora de erguer o braço para fazer um brinde, tem a impressão que a camiseta
rasgará na altura da axila. Quando chega em casa, mal consegue despi-la, parece
uma roupa de neoprene, você se sente um surfista que acaba de sair do mar. Ao
conseguir, depois de 10 minutos, se desfazer da camiseta, seus braços quase
falam e agradecem: obrigada por nos devolver a circulação do sangue.
Calma.
Pense. Você não está mais gorda. Alguém pode explicar?
Lamento
ser portadora de más notícias, mas você alargou, apenas isso. Segue linda, mas
seus braços não são mais aqueles dois gravetos de antigamente e suas costas não
fazem mais os marmanjos suspirarem cada vez que usa frente única. Os ombros
pontiagudos, outrora tão elegantes, deram uma arredondada.
Enfim,
o tempo fez um preenchimento por conta própria no que antes era naturalmente
delgado. Nada grave. Não tome nenhuma providência, pois isso não se resolve com
dieta nem cirurgia. É o efeito colateral de continuar viva e saudável – não
queria ter morrido esquelética aos 40, queria? Aumente a numeração do sutiã e
siga vivendo como se nada estivesse acontecendo.
E,
por cautela, reforce todas as costuras.
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