16
de novembro de 2012 | N° 17255
DAVID
COIMBRA
O bandido morto na
delegacia
Aquele
senhor que enfiou o canivete no peito de um bandido dentro da delegacia de
Passo Fundo, por que ele fez isso? O bandido estava preso, estava diante dos
policiais, e ainda assim o homem decidiu atacá-lo, e atacá-lo de morte, e o
matou, mas também marcou sua própria vida.
Por
que ele fez isso?
Há
quem diga que se encontrava sob violenta emoção, já que o bandido tentou
estuprar sua filha. Devia sentir-se, de fato, bastante perturbado, mas, ainda
assim, é intrigante o fato de ele ter arremetido contra o outro, que já havia
sido detido, que decerto iria a julgamento e que decerto seria condenado.
Então
repito a pergunta: por que ele fez isso?
Respondo:
por saber que nada aconteceria com o estuprador. Mesmo que fosse julgado e
condenado, o bandido seria solto em seguida, e continuaria emboscando mulheres,
e ameaçando-as com faca, e arrastando-as para um local ermo e violentando-as. O
pai da moça atacada sabia disso, a moça atacada sabia disso e o bandido também
sabia. Foi, portanto, por sentir que uma profunda e intolerável injustiça seria
cometida que aquele pai indignado cometeu um ato de vingança e se transformou
de um homem reto em um assassino.
No
Brasil, os verdadeiros bandidos, como o estuprador de Passo Fundo, os
verdadeiros bandidos sabem que a lei está ao lado deles. É por esse mesmo motivo
que eles, os verdadeiros bandidos, matam policiais em São Paulo, incendeiam
ônibus em Santa Catarina, trocam tiros com soldados no Rio.
Dias
atrás, aqui ao lado, em Criciúma, a polícia deteve 16 menores de idade que
apedrejavam o presídio da cidade. Cada um tinha uma nota de R$ 20 no bolso.
Interrogados, admitiram que haviam sido contratados para perpetrar o ataque.
Contratados por quem? Por verdadeiros bandidos, integrantes de facções
criminosas profissionais, que sabem que nada acontece com homens feitos que
tenham menos de 18 anos de idade, mesmo que esses homens feitos matem outros
homens.
Quem
está dentro da lei teme a lei. Quem está fora da lei debocha dela. O que um
homem que cumpre a lei precisa ter para se manter a salvo dos homens que não a
cumprem? Sorte. A ajuda do imponderável. Assim é o Brasil do século 21.
De
quem é a culpa por essa situação? Não é da polícia, que prende. Nem da Justiça,
que solta. A Justiça solta porque tem de soltar.
A
culpa é da lei leniente, frouxa, incompatível com a realidade.
Quer
dizer: a culpa é NOSSA. Fomos nós, através dos nossos legítimos representantes,
que escrevemos essas leis. Naquele tempo, quando as escrevemos, acreditávamos
que a criminalidade e a violência diminuiriam quando a miséria diminuísse. A miséria
diminui todos os anos, desde a implantação do Plano Real, e, todos os anos, a
violência e a criminalidade aumentam.
Ou
seja: nós estávamos errados. Não é a miséria que alimenta o crime. É a
impunidade. Nós é que construímos esse estado de impunidade. Nós é que vamos
ter de corrigi-lo.
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