sábado, 10 de novembro de 2012



11 de novembro de 2012 | N° 17250
PAULO SANT’ANA

Libelo ao inaudível

O dever do comunicador é falar por seu povo, por seu público.

Por isso é que as empresas de comunicação têm de ter grande cuidado ao escolher seus comunicadores.

Eles têm de ser acessíveis, têm de ter conhecimento dos assuntos que interessam ao público consumidor de rádio, jornal e televisão.

E no rádio e na televisão têm de, acima de tudo, possuir bom humor, sem serem cafonas.

Não podem os comunicadores aderir a qualquer governo instalado. Pelo contrário, têm de ser opostos aos governos, mostrando seus erros e denunciando seus equívocos, suas tropelias e os privilégios corporativos dos seus integrantes.

Mas acima de tudo isso, realizando tudo isso, os comunicadores têm de ser talentosos.

Não é fácil recrutar comunicadores talentosos, mas as empresas de comunicação devem se esforçar com denodo para consegui-los.

Chegam a causar enfado e comiseração certos espaços jornalísticos sem imaginação, sem conteúdo ou atrapalhados na forma.

Um dos maiores equívocos dos meios de comunicação é, na busca desenfreada por audiência ou leitura, manterem indefinidamente espaços de sucesso no Ibope mas que carecem de maior qualidade.

O erro está em que os índices de audiência poderiam até ser maiores se fossem mais qualificados os programas.

É o pecado do conservadorismo, da ausência mais completa de inovação.

É até compreensível o conservadorismo nos títulos e intenções dos programas, inaceitável nos conteúdos e no estilo.

Nos conteúdos e na forma de apresentação, têm de ser constantemente modificados, inovando em criatividade e imaginação.

Sei que é preciso ter talentos individuais para apresentar os programas, mas não há esforço maior para a colheita e formação de talentos.

E, no meio disso, um fenômeno quase invisível: há programas de insustentável chatice que no entanto obtêm inexplicáveis bons índices de audiência.

E aos ouvintes e telespectadores não interessam os bons índices de audiência, interessa apenas a boa qualidade dos programas.

Evidentemente que estou me referindo a programas e espaços locais.

Mas não é diferente no plano nacional. As pessoas exigem que eu cite nomes, mas compreendam minha situação, eu tenho lá os meus grilhões.

Há, por exemplo, no plano nacional um programa de entrevistas consagrado há muitos anos que desmoronou em matéria de qualidade, viu baixado até o abismo o interesse dos telespectadores e que é mantido no ar com irritante insistência e desolado desperdício. Dói assistir a ele, ainda bem que com isso ficou mais fácil não assistir.

Estou fazendo apenas um ensaio de autocrítica. Necessário e imprescindível. Porque qualquer modificação nos conteúdos e nas formas só pode partir de nós, os comunicadores, os produtores, os proprietários dos veículos.

É imprescindível um permanente movimento de avaliação da obra apresentada.

Tem de acabar o sono sobre louros. 

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