23
de novembro de 2012 | N° 17262
DAVID
COIMBRA
Acreditar em
Deus
Tenho
amigos ateus. Admiro-os com sinceridade por sua coragem, uma coragem de que não
disponho aqui no meu peito. Não por temer a crítica das outras pessoas, não, se
há algo com o que estou acostumado é a crítica das outras pessoas. Mas e Deus?
Digo: e se Deus existir mesmo? Vá que Ele não goste do fato de alguém não
acreditar Nele, ainda que seja alguém tão insignificante quanto eu, um inseto
repoltreado na parte dos fundos do Brasil.
Todas
as religiões enfatizam isso: que Deus não apenas desaprova como fica
irritadíssimo quando alguém sequer cogita da Sua não existência. Entendo Deus:
a credibilidade é importante mesmo para quem é Todo-Poderoso.
O
problema, tanto o de Deus quando o meu próprio, é o conflito racionalidade
versus irracionalidade, consciente versus inconsciente. Sempre quis ser
completamente racional, na minha vida. Não consigo. Às vezes, o meu consciente
é dominado pelo meu inconsciente. Sinto e faço coisas que não queria sentir ou
fazer. Como pode isso?
O
verdadeiramente racional é o consciente, é ele quem reflete sobre o mundo e a
vida. É ele quem PENSA. Aí vem o inconsciente, com seus instintos e seus
sentimentos, e toma conta. Que maldita fraqueza. Sou um fraco. Porque sou meu
consciente, não é? Ou deveria ser.
O
conceito de Deus, obviamente, não é racional. É matéria de fé. Logo, está
alojado em algum lugar do inconsciente, junto com os sentimentos, os instintos,
toda aquela coisa pastosa. Alguém incrustou o conceito de Deus no meu
inconsciente – minha mãe, claro, tudo é culpa da mãe.
Então,
entramos em luta de novo, o meu consciente contra o meu inconsciente. Eu
suportaria isso sem problemas e talvez meu consciente vencesse, já que nutro
claras preferências por ele. Ocorre que, às vezes, o meu consciente é assaltado
por dúvidas irresolvíveis a esse respeito. Vou citar duas clássicas: o Nada e o
Infinito.
Os
físicos tentam e não conseguem explicar o Nada e o Infinito. O universo é
circular, blablablá. Balela. Depois de uma coisa, tem de vir outra coisa. Não é
possível vir o Nada. Não é possível conceber a ideia do Nada.
Eis
a terrível maldição: o meu cérebro não é capaz de explicar tudo. Pelo menos não
o meu, tão pequeno e limitado. E, se o meu cérebro não é capaz de entender
tudo, pode ser que Deus exista, afinal, apesar de a minha Inteligência crua
apontar que não. É uma possibilidade.
Sendo
assim, é melhor optar pelo caminho mais seguro. Literalmente por via das
dúvidas, eu deixaria Deus nas cédulas de real. Melhor não provocar.
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