20
de novembro de 2012 | N° 17259
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Breve história do cânone
Convidado
para um papo acadêmico sobre o que fazer com o ensino de literatura hoje em
dia, me deparei com o tema do fim do cânone e sua crise, real ou suposta. Sabe
qual é o papo, não sabe? O cânone é, seria, aquele conjunto restritíssimo de
livros que a escola perpetua, obrigando à leitura os alunos das sucessivas gerações.
Harold Bloom popularizou o termo com seu livro O Cânone Ocidental, uma restrita
lista de livros que ele considera os que realmente valem a pena.
Bom,
perguntas várias me ocorreram, e cá estou eu pensando no tema. Que cânone era
esse, no Brasil? Respondendo de modo rápido, são alguns modelos, uma sucessão
de cânones. Primeiro foi o jesuítico, eis que eram os jesuítas os responsáveis
pelas escolas médias no Brasil dos tempos coloniais. Com eles se entronizou,
por exemplo, o padre Vieira.
Depois,
mais duradouro, o cânone nacionalista, inventado pelos pensadores e escritores
românticos, que viveram o pós-Independência e tomaram a peito a tarefa de enunciar
o que era o Brasil – e as leituras convenientes para tal. Aqui, pontificaram
Alencar e Gonçalves Dias.
No
fim do século 19, o cânone ganhou as cores nacionalistas agora republicanas,
que teve como protagonista gente como Rui Barbosa e Olavo Bilac, pernósticos em
sua visão da linguagem e da vida social e eles próprios canonizados nos manuais
escolares.
A
outra grande matriz de cânone estabeleceu-se depois dos anos 1930, com Getúlio
no poder político e os modernistas, em sentido amplo, no poder literário (para
dizer de modo simples). Foi nesse processo que ganharam espaço os romancistas
realistas dos anos 1930-1960 (Jorge Amado, Graciliano, Erico), que passaram a
figurar em todos os currículos como leitura exemplar para entender o país.
Na
maturidade desse processo de entronização do modernismo, estabeleceu-se
finalmente a dominação da visão de mundo do modernismo paulista, em particular
Mário de Andrade, com seu Macunaíma. Quando eu estava no colégio, até meados
dos anos 1970, essa presença ainda não era totalmente obrigatória, mas passou a
ser logo em seguida, permanecendo lá até hoje. Em crise esse paradigma? Tenho dúvidas
sérias.
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