12
de novembro de 2012 | N° 17251
KLEDIR
RAMIL
O rei de Ibiza
Um
dos melhores testes para saber se um casamento vai durar é os noivos saírem de
viagem. Se depois de um tempo, viajando juntos, nenhum dos dois acordar de manhã
sentindo saudade da casa de mamãe, pode acreditar, tudo vai dar certo.
Essa
é a ideia da viagem de núpcias, só que ela deveria ser feita antes do casamento
e não depois, quando o contrato já está assinado. Tem muita mulher que volta da
lua de mel se perguntando onde estava com a cabeça quando decidiu casar com
aquele imbecil que não gosta de museus e deixa a toalha molhada em cima da cama.
E muito homem que se desilude, pois sua mulher nunca ouviu falar no Estádio de
Wembley.
Por
isso, quando conheci minha mulher, tiramos férias e fomos passear um mês pela
Europa. Apesar da falta de intimidade, a viagem foi muito agradável e, é claro,
cheia de descobertas.
Era
pleno verão europeu, passando por Barcelona, decidimos tirar uns dias na ilha
de Ibiza. Na primeira noite, após o jantar, fomos jogar sinuca no salão do
hotel. Ficamos esperando, havia muita gente na fila e quando chegou nossa vez
de jogar fiz uma gentileza com minha adversária: “Primeiro as damas”. Ela, meio
atrapalhada com o taco, fez a bola rolar numa jogada sem maiores consequências.
Com pose de jogador profissional, examinei meu taco, retoquei a ponta com
aquele giz azul e me preparei para atacar a bola
1. Dei
um toque sutil, e a bola vermelha caprichosamente foi parar na caçapa. Esbocei
um sorriso com o canto da boca e encaçapei a segunda bola. Depois, a terceira,
a quarta, a quinta e a sexta... A essas alturas, já havia juntado em torno da
mesa uma pequena multidão de turistas, que entre “oohhs” e cochichos em línguas
variadas, queriam ver o fenômeno brasileiro do snooker. O jogo já estava, como
diz o ditado, “pela bola 7”, então demos o assunto por encerrado.
Cumprimentei
a plateia com um leve movimento de cabeça, peguei minha mulher pelo braço e fui
saindo. Foi quando se ouviu uma explosão de gritos e aplausos de um público
maravilhado com o espetáculo que acabara de assistir. Minha mulher, encantada
com a descoberta, sorria com o pensamento fervilhando: “Gente, casei com o rei
da sinuca!”.
O
que acontece é que tudo aquilo foi a mais pura sorte. Juro. Nunca joguei sinuca
direito. Mas aproveitei para desfrutar aquele momento de glória e só um tempo
depois revelei a verdade pra ela.
Um
detalhe importante nessa história toda é que continuo com a mesma mulher há 30 anos.
Acho que ela gostou da viagem.
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