KENNETH MAXWELL
O
Haiti é o país mais pobre do hemisfério Ocidental.
A
supertempestade Sandy devastou as áreas costeiras de Nova Jersey e inundou
algumas porções da cidade de Nova York. A energia ainda não voltou em todas as
regiões afetadas e o governador Andrew Cuomo ordenou um inquérito sobre a
ineficiência das companhias de energia, enquanto o prefeito de Nova York,
Michael Bloomberg, estabelecia novos abrigos para as pessoas desprovidas de
eletricidade, aquecimento e água quente.
Mas
a supertempestade Sandy também atingiu o Haiti, onde 400 mil pessoas continuam
a viver precariamente em esquálidos acampamentos. A reconstrução após o grande
terremoto de 2010 vem sendo dolorosamente lenta, e boa parte da assistência
internacional prometida não chegou.
É curioso
que, neste exato momento, uma nova onda historiográfica esteja reexaminando a
Revolução Haitiana. No começo da década de 1780, a colônia francesa de Saint-Domingue
era considerada a mais rica do mundo, produzindo metade do açúcar e do café consumidos
na Europa e nas Américas. Saint-Domingue era conhecida como "a pérola das
Antilhas", e foi um dos grandes importadores de escravos africanos. Em 1789,
mais de dois terços dos escravos no Haiti eram nascidos na África.
Em
agosto de 1791, os cativos do Haiti se sublevaram na maior rebelião de escravos
da história moderna, o que forçou a Revolução Francesa a considerar a questão
da escravatura. Em 1793, as autoridades coloniais francesas começaram a
promover a abolição da escravatura, por decreto, e, em fevereiro de 1794, a
Assembleia Nacional francesa pôs fim à escravidão nas colônias do país,
ratificando o que já havia ocorrido na prática.
Mas
o exemplo do Haiti se provou limitado. Em 1802, Napoleão reverteu a política
anterior ao proibir negros, mulatos e pessoas de cor de entrarem na França,
proibição reiterada em 1806 e 1817. No Império francês, a emancipação de 1794
foi rescindida.
Em 1804,
quando o Haiti se tornou o segundo país independente a surgir nas Américas, o
comércio de escravos voltou a florescer em Guadalupe e na Martinica.
Nos
EUA, a escravidão continuou forte no Sul. Cuba suplantou o Haiti e se tornou o
maior produtor mundial de açúcar e um dos grandes importadores de escravos
africanos. Simón Bolívar havia assumido o compromisso de abolir a escravidão na
Venezuela quando recebeu asilo e assistência do Haiti. Tentou cumprir a
promessa, mas a escravidão só foi abolida na Venezuela em 1854.
Mais
ou menos como no Brasil, onde, a despeito de compromissos assumidos em tratado,
o comércio de escravos continuou até 1850 e a escravatura só terminou em 1888.
KENNETH
MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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