terça-feira, 13 de novembro de 2012



13 de novembro de 2012 | N° 17252
DAVID COIMBRA

1. Um mundo sem ridículos

As nossas vergonhas a gente não conta. Sobretudo nesses tempos de Twitter, Instagram e Facebook, em que as pessoas passam o dia registrando para a posteridade suas vitórias e alegrias, falar sobre derrotas e tristezas é inconcebível. Todos são campeões, nas redes sociais.

Se bem que derrotas e tristezas até são admissíveis, volta e meia alguém assume que perdeu ou que está triste. Que foi ridículo, nunca. Ninguém é ridículo. Ninguém é humilhado. Ninguém é covarde. Como já disse, ninguém reconhece suas vergonhas.

Também não serei eu a reconhecer as minhas agora, ainda mais de público, vergonhas eternizadas em papel. Mas confesso que as tenho bem escondidas, e as odeio. No entanto, sei que servem para algo – para me deixar alerta. Entendo à perfeição que corro o risco de me tornar ridículo a qualquer momento e que a queda está sempre à espreita, embora sempre possa me levantar.

De certa forma, trata-se de um alívio. Posso ser um pouco condescendente comigo mesmo. Sei que vivo errando e que vou errar de novo. Sei da minha imensa capacidade de errar. Assim, se alguém vier me criticar:

– Ei, você errou! Eu suspiro:

– Pois é , vivo fazendo isso...

2. Os invencíveis do Facebook

O fato é que você precisa ter uma margem de tolerância para errar, senão você estoura.

Veja o caso do Grêmio: se Koff não renovar com Luxemburgo, perderá a margem de tolerância. Começará sua gestão obrigado a vencer TODAS. Mesmo que o novo técnico do Grêmio seja Felipão, a desconfiança da torcida estará a cada partida pairando acima do time. Ao primeiro revés, a cobrança se tornará insuportável.

Então, não há saída para Koff: ele tem de renovar com Luxemburgo. Porque ele sabe, todos nós sabemos: só no Facebook existem invencíveis.

3. Medo de errar

Há outra possibilidade ainda mais aterradora para Koff, caso ele não renove com Luxemburgo: o Inter contratá-lo. Se isso acontecer, não adianta o Grêmio de Koff vencer TODAS; o Inter de Luxemburgo também terá de perder.

Em resumo, Koff virou refém das vitórias de Luxemburgo. Quando mais Luxemburgo vencer, mais embretado estará Koff. Luxemburgo poderia fazer exigências descabidas, e Koff teria de ponderar. Ou, num último lance de desespero, torná-las públicas.

Mas acredito que isso não ocorrerá. Acredito que haverá bom senso das duas partes. E assim todos poderão errar sem medo. Eu, que tanto erro, sei o quanto é bom não ter medo de errar.

Fórmula fajuta

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão em Presidente Prudente.

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão numa partida com oito mil espectadores.

Só na fórmula de pontos corridos um time é campeão num jogo contra um virtual rebaixado.

Só na fórmula de pontos corridos um time pode ser campeão graças ao favorecimento de arbitragens em jogos intermediários.

Só na fórmula de pontos corridos um campeonato termina três semanas antes da última rodada.

Só na fórmula de pontos corridos um time pode ser campeão sem ter derrotado o vice.

A fórmula de pontos corridos é ruim por várias razões, mas a principal é que, ao contrário do que apregoam seus defensores, ela não apura quem é o melhor. Porque o campeão não passa pela prova definitiva de uma final, de um jogo nervoso, único, que todos estão assistindo e que pode decidir tudo.

O Fluminense mereceu ser campeão na fórmula de pontos corridos, mas a fórmula de pontos corridos não demonstra quem de fato merece ser campeão.

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