19 de novembro de 2012 |
N° 17258
LUIZ ANTONIO DE ASSIS
BRASIL
Poemas chineses
Quem lê jornal e se detém numa
coluna de crônica, é porque tem experiência de leitura e possui muito
conhecimento acumulado. Seu imaginário acerca da China, por exemplo, não se
deixa seduzir por ideias feitas, como Mao-Tsé-Tung ou o catálogo de produtos industrializados
que inundam nossas lojas e supermercados. Esse leitor já sabe que a China
possui uma antiquíssima e invejável cultura, representada nas artes plásticas,
na música, na arquitetura, no teatro e na poesia.
Tomando esses dados como
autênticos, não cabe repetir que a poesia chinesa tradicional possui temas que
em que está, por excelência e relevância, a natureza. É de Li Bai (701-762, na
datação ocidental) o Diálogo sobre a montanha: Há quem pergunte / por que vivo
/ nestas verdes colinas. / Sem responder, sorrio, / de coração sereno, /
enquanto as flores de pessegueiro / flutuam na água. / Tudo vai embora, tudo se
apaga. / Aqui é outra, a terra, / e outro, o céu. / Nada parecido / com o mundo
dos humanos / lá embaixo.
Este poema, e outros do mesmo
autor e, ainda, de Du Fu (712-770) e Wang Wei (701-761) foram reunidos no livro
Poemas Clássicos Chineses, L&PM Pocket, com tradução e organização de
Sérgio Capparelli (sim, o nosso estimado e premiado escritor de obras infantis,
mas não só) e Sun Yuqi. Na abertura há um curto, mas cabal ensaio de Leonardo
Fróes, recomendável a quem não está familiarizado com a poesia da China.
Não será possível, por óbvio,
estabelecer qualquer juízo sobre a acuidade do trabalho da tradução, mas
confiamos plenamente nos nomes da capa. Algo que chama atenção, em particular,
é a extrema síntese linguística dos caracteres chineses, visível quando
comparamos o original nas páginas pares com a respectiva tradução nas páginas
ímpares. Os poetas chineses precisavam de apenas quatro linhas, quando
precisamos do dobro, pelo menos. Nada de novo.
Mas voltando ao tema da natureza.
Observe-se o refinamento deste poema do aristocrata Wang Wei, também músico e
pintor: Pássaros / alçando voo. / Montanhas / que se repetem, / sempre, / na
cor do outono... / Ando de um lado para o outro / no monte florido: / até
quando / essa melancolia?
Quer-se dizer: enquanto, no mesmo
período, os aristocratas ocidentais, sem nenhuma melancolia, matavam-se em
batalhas cruentas, Wang Wei escrevia um poema sobre montes floridos. Algo a
pensar. Mas, antes, é bom ler o livro por inteiro.
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