ELIANE
CANTANHÊDE
Vil metal e vil prisão
BRASÍLIA
- Enquanto eram os PPP (pobres, pretos e prostitutas) jogados desde sempre nas
cadeias, estava tudo muito bem. Bastou o Supremo decretar dez anos e dez meses
de prisão para José Dirceu para todo mundo acordar e discutir a realidade
penitenciária brasileira.
Se o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classifica as prisões do país como "medievais"
e prefere a morte a ficar preso no Brasil, o que a sociedade e principalmente
os próprios condenados podem dizer?
Com
a autoridade de quem atuou efetivamente para melhorar esse estado de coisas,
retirando das prisões milhares de presos ilegais à época em que presidiu o STF
e o CNJ, Gilmar Mendes concordou com a crítica de Cardozo, mas ironizou: "Lamento
que ele fale só agora".
Depois
da pena de Dirceu à prisão, também entrou em pauta no Supremo o debate sobre
penas pecuniárias versus privação de liberdade. Ou seja, multas em vez de prisão.
Estridente,
Dias Toffoli disse que o intuito dos crimes (do mensalão) era financeiro, e não
atentar contra a democracia ou partir para a violência, e resumiu: "Era o
vil metal. Que se pague então com o vil metal".
E
houve uma inversão. Antes, o revisor Ricardo Lewandowski abria o debate e
Toffoli o acompanhava. Ontem, Toffoli puxou a questão e Lewandowski foi o primeiro
a aderir à tese, com uma ressalva: desde que de acordo com as posses do réu.
Soou
como uma tentativa de negociação típica de advogados, não de juízes: já que estão
condenados, que paguem em dinheiro, não em dias na cadeia. Tudo, menos levar réus
tão ilustres para a prisão?
A
dinâmica do julgamento, porém, segue a lei e a tradição: uma coisa não elimina
a outra. Condenados devem pagar com o bolso e, dependendo do caso, com a
liberdade.
Que
a condenação de poderosos não seja em vão nem só vingança. Além de resgatar a
Justiça, que possa também tornar mais justas as prisões medievais dos
brasileiros comuns.
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