sexta-feira, 6 de julho de 2012


Jaime Cimenti

Humor requintado, narrativa hábil e pesquisa

O incrível geneticista chinês é o oitavo romance da escritora e jornalista Ângela Dutra de Menezes, autora do best-seller O Português que nos pariu e também dos livros A tecelã de sonhos, Santa Sofia e O avesso do retrato. Parte de sua obra já foi publicada em Portugal e na Espanha. O relato mostra maturidade e como a autora dosa bem dados históricos com linguagem leve, descontraída.

Os leitores e os críticos justamente elogiam muito o toque de humor, o senso de pesquisa e a coloquialidade cativante da escrita de Ângela. Neste romance, ela narra as proezas e as descobertas incríveis do cientista chinês Yuan Wang, obra que segue a trilha do humor brasileiro.

O geneticista oriental vai para os Estados Unidos, onde busca erradicar a humanidade de todos os tipos de chatos - sim, a chatice é uma patologia - e isolar o cromossomo responsável pela obesidade, a fim de emagrecer a população mundial.

Na Universidade da Califórnia, Wang se depara com outros tipos pitorescos, como Jing-Quo, eterno candidato ao Nobel, além do próprio narrador, que nos conta a história com um cinismo agudo e deliciosamente engraçado, cuja voz sardônica nos remete aos romances picarescos de Voltaire.

A linguagem é clara, gostosa, não há chance para piruetas verbais, jogos de palavras estéreis e hermetismos, tantas vezes insuportáveis, daqueles só para iniciados. Ângela Dutra de Menezes brinca com os jargões da ciência para mostrar uma realidade que reflete e faz refletir sobre a nossa, porém com a lente ora côncava, ora convexa, do saudável riso.

Na apresentação do romance, Henrique Rodrigues escreveu : “Ângela lança mão da melhor tradição do humor brasileiro mesclado a um  apurado senso de pesquisa e que não se trata, felizmente,  de informação adiposa, mas aquela que flui como uma conversa boa que se recebe com um sorriso inteligente. Com isso, o resultado é uma leitura ágil e irresistível.”

É isso mesmo. Em meio a tantas narrativas empoladas, cheias de pompa e circunstância, intrincadas e tantas vazias de conteúdo, em que a aparente genialidade de certos jogos verbais parece ser o principal, a narrativa de Ângela mostra que ainda existe, sim, ficção clara, divertida, com ritmo ágil e rico, sem deixar de lado a ingenuidade e o espanto e, ainda, por cima, tratando de elementos históricos. Não é pouca coisa. Record, 224 páginas.

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