Jaime
Cimenti
Humor requintado, narrativa hábil e
pesquisa
O
incrível geneticista chinês é o oitavo romance da escritora e jornalista Ângela
Dutra de Menezes, autora do best-seller O Português que nos pariu e também dos
livros A tecelã de sonhos, Santa Sofia e O avesso do retrato. Parte de sua obra
já foi publicada em Portugal e na Espanha. O relato mostra maturidade e como a
autora dosa bem dados históricos com linguagem leve, descontraída.
Os
leitores e os críticos justamente elogiam muito o toque de humor, o senso de
pesquisa e a coloquialidade cativante da escrita de Ângela. Neste romance, ela
narra as proezas e as descobertas incríveis do cientista chinês Yuan Wang, obra
que segue a trilha do humor brasileiro.
O
geneticista oriental vai para os Estados Unidos, onde busca erradicar a
humanidade de todos os tipos de chatos - sim, a chatice é uma patologia - e
isolar o cromossomo responsável pela obesidade, a fim de emagrecer a população
mundial.
Na
Universidade da Califórnia, Wang se depara com outros tipos pitorescos, como
Jing-Quo, eterno candidato ao Nobel, além do próprio narrador, que nos conta a
história com um cinismo agudo e deliciosamente engraçado, cuja voz sardônica
nos remete aos romances picarescos de Voltaire.
A
linguagem é clara, gostosa, não há chance para piruetas verbais, jogos de
palavras estéreis e hermetismos, tantas vezes insuportáveis, daqueles só para
iniciados. Ângela Dutra de Menezes brinca com os jargões da ciência para
mostrar uma realidade que reflete e faz refletir sobre a nossa, porém com a
lente ora côncava, ora convexa, do saudável riso.
Na
apresentação do romance, Henrique Rodrigues escreveu : “Ângela lança mão da
melhor tradição do humor brasileiro mesclado a um apurado senso de pesquisa e que não se trata,
felizmente, de informação adiposa, mas
aquela que flui como uma conversa boa que se recebe com um sorriso inteligente.
Com isso, o resultado é uma leitura ágil e irresistível.”
É isso
mesmo. Em meio a tantas narrativas empoladas, cheias de pompa e circunstância,
intrincadas e tantas vazias de conteúdo, em que a aparente genialidade de
certos jogos verbais parece ser o principal, a narrativa de Ângela mostra que
ainda existe, sim, ficção clara, divertida, com ritmo ágil e rico, sem deixar
de lado a ingenuidade e o espanto e, ainda, por cima, tratando de elementos
históricos. Não é pouca coisa. Record, 224 páginas.
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