sexta-feira, 6 de julho de 2012


Jaime Cimenti

Davi, o ótimo companheiro de viagem

Companheiros de viagem de avião são de vários tipos. A maioria é composta de silenciosos, imersos em leituras, notebooks ou iPads. Seres modernos, bastante solitários. Outros trabalham em algo, e há os parlamentares que ficam parlamentando.

Numa das minhas últimas viagens, o belo tipo faceiro a meu lado era o Davi. Não sei se vou reencontrá-lo e provavelmente vocês não o conhecem e não terão o prazer de um dia entrar em contato com ele. Isso não importa. Quando fui me acomodar na poltrona, o Davi mamava no peito da mãe, sentada ao lado da janelinha. Soube que ele é prematuro, tem cinco meses, seu nome é por causa do filme O rei Davi.

Depois da mamada, a mamãe o colocou na poltrona do meio, onde ele passou mais de duas horas adormecido, numa legítima paz de criança, feito o verso da canção da Dolores Duran. Davi não eructou, não roncou, não chorou, não fez cocô e sequer soltou um pum. Gente finíssima, comportou-se como um rei dos bons, um gentleman. Não chegamos a trocar palavras, apenas alguns olhares.

Conversei um pouco com a mãe do Davi, depois li jornais, livros, abri o iPad, mas pensei que o melhor da viagem era simplesmente contemplar aquele bebê, em silêncio e sem ligar a luz, para ele dormir tranquilo. Toda casa deveria ter um bebê de plantão, sempre presente, tipo assim o Davi, que possivelmente sonhava apenas com a próxima mamada, sem a mente ocupada por mensalões, confusões e outros temas adultões.

Fiquei lembrando de minhas filhas na idade dele, com a pele alva como o caderno do primeiro dia de aula, com o mundo pela frente. Pois é, Davi, melhor não chorar algum leite derramado e melhor pensar no sol do dia seguinte.

Eu disse para tua mãe que tinha escrito uma coisas sobre ti, coisas simples, não muito originais. Ela disse que são as coisas mais importantes. Tem razão a tua zelosa, querida mãe. Ah, sabe o que ela disse? Que tu nasceste por desejo verdadeiro dela e que ela não se queixa de ter acordado a cada duas horas, nas noites dos primeiros meses e de ter perdido muitos cabelos por causa disso.

Muito mais não precisas, bebê. Grande Davi, boas mamadas, bons sonhos, boas viagens pela vida! Não te deixa levar muito por certos lances do mundo adulto. Claro que têm os lados bons de cada fase da vida, mas desejo que não endureças e seques teu olhar de todo. Até um dia. Fica com Deus, obrigado pela companhia e pelas inspirações.

(Jaime Cimenti)

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