Jaime
Cimenti
Davi, o ótimo companheiro de
viagem
Companheiros
de viagem de avião são de vários tipos. A maioria é composta de silenciosos,
imersos em leituras, notebooks ou iPads. Seres modernos, bastante solitários. Outros
trabalham em algo, e há os parlamentares que ficam parlamentando.
Numa
das minhas últimas viagens, o belo tipo faceiro a meu lado era o Davi. Não sei
se vou reencontrá-lo e provavelmente vocês não o conhecem e não terão o prazer
de um dia entrar em contato com ele. Isso não importa. Quando fui me acomodar
na poltrona, o Davi mamava no peito da mãe, sentada ao lado da janelinha. Soube
que ele é prematuro, tem cinco meses, seu nome é por causa do filme O rei Davi.
Depois
da mamada, a mamãe o colocou na poltrona do meio, onde ele passou mais de duas
horas adormecido, numa legítima paz de criança, feito o verso da canção da
Dolores Duran. Davi não eructou, não roncou, não chorou, não fez cocô e sequer
soltou um pum. Gente finíssima, comportou-se como um rei dos bons, um gentleman.
Não chegamos a trocar palavras, apenas alguns olhares.
Conversei
um pouco com a mãe do Davi, depois li jornais, livros, abri o iPad, mas pensei
que o melhor da viagem era simplesmente contemplar aquele bebê, em silêncio e
sem ligar a luz, para ele dormir tranquilo. Toda casa deveria ter um bebê de
plantão, sempre presente, tipo assim o Davi, que possivelmente sonhava apenas
com a próxima mamada, sem a mente ocupada por mensalões, confusões e outros temas
adultões.
Fiquei
lembrando de minhas filhas na idade dele, com a pele alva como o caderno do
primeiro dia de aula, com o mundo pela frente. Pois é, Davi, melhor não chorar
algum leite derramado e melhor pensar no sol do dia seguinte.
Eu
disse para tua mãe que tinha escrito uma coisas sobre ti, coisas simples, não
muito originais. Ela disse que são as coisas mais importantes. Tem razão a tua
zelosa, querida mãe. Ah, sabe o que ela disse? Que tu nasceste por desejo
verdadeiro dela e que ela não se queixa de ter acordado a cada duas horas, nas
noites dos primeiros meses e de ter perdido muitos cabelos por causa disso.
Muito
mais não precisas, bebê. Grande Davi, boas mamadas, bons sonhos, boas viagens
pela vida! Não te deixa levar muito por certos lances do mundo adulto. Claro
que têm os lados bons de cada fase da vida, mas desejo que não endureças e
seques teu olhar de todo. Até um dia. Fica com Deus, obrigado pela companhia e
pelas inspirações.
(Jaime
Cimenti)
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