06
de julho de 2012 | N° 17122
ARTIGOS
-Antônio Mesquita Galvão*
Acordos espúrios
Depois
que Brizola († 2004) afirmou que para ganhar a presidência da República faria “aliança
até com o diabo” a história dos acordos políticos no Brasil parece que jogou a ética
e a fidelidade partidária pela janela.
O
que chocou a opinião pública recentemente foi um acordo entre Lula e Paulo
Maluf (PP-SP), para apoiar Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo. Dirigentes
do PP afirmam que o deputado Maluf quer participar da formulação do plano de
governo do petista. Maluf e Lula eram inimigos ou adversários até o momento da
convergência atual de seus objetivos. A busca do poder não cansa de propugnar
esse “vale tudo”.
Esses
acordos, ou conchavos políticos não são de hoje. O Partido Social Democrático (PSD)
foi um partido político brasileiro fundado em 1945, formado sob os auspícios de
Getúlio Vargas de caráter liberal-conservador, reunindo as elites. Getúlio era
um latifundiário.
Ideologicamente
oposto, surgiu, na mesma época o PTB, também sob a inspiração de Getúlio, seu
maior líder e no bojo do queremismo, movimento popular cuja divisa era queremos
Getúlio e que propunha uma Assembleia Constituinte com Getúlio na presidência
da República. Se a ideologia do PSD era de apoio ao empresariado e ao latifúndio,
o ideário do PTB favorecia o operariado, o homem do campo e os sindicatos.
Durante
a ditadura (64-85), os militares inventaram os mandatos “biônicos” (senadores e
governadores) para obterem poder de governabilidade. Antes disto, a política do
café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo
federal durante a “República Velha” (1898-1930) para que os presidentes da República
fossem escolhidos entre os políticos, mesmo adversários, de São Paulo (café) e
Minas Gerais (leite), alternadamente.
O móvel
de tantas alianças está primeiramente na caça aos eleitores. Por mais
desacreditado que esteja, no concerto político nacional, o prestígio de Maluf é
capaz de canalizar alguns milhares de votos decisivos para Haddad. Depois da
eleição, só as alianças podem garantir a governabilidade, pois sem maioria no
Legislativo ninguém governa.
Nos
países adiantados, onde a democracia é fato consumado, depois de corrido o
pleito, vencedores e vencidos fecham campanha em favor do país, esquecendo ódios
e picuinhas do período eleitoral. No Brasil, com essa pífia vocação que temos
para a democracia e um golpismo latente, os perdedores não só torcem como também
fazem o possível para que o governo eleito não dê certo, para dar razão aos
seus argumentos e preparar um retorno mediato.
*FILÓSOFO,
ESCRITOR, EX-PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA
Nenhum comentário:
Postar um comentário