ELIANE
CANTANHÊDE
Ajoelhado no
milho
BRASÍLIA
- Ponto para a diplomacia brasileira, que acalmou o Planalto, fechou com o
uruguaio Mujica, baixou a bola de Cristina Kirchner e impediu que a turma de
Chávez incendiasse o Paraguai.
Prevaleceu
a proposta brasileira de reação à queda de Fernando Lugo, como dito aqui: uma
"ação pedagógica", para evitar novas deposições-relâmpago, e um
"isolamento calculado". Punição política, sim; sanções econômicas,
não.
O
país foi suspenso do Mercosul e da Unasul, mas continua beneficiário da TEC, a
tarifa comum, e dos acordos, das obras, dos investimentos e dos financiamentos
do BNDES. Ajoelhou no milho, mas não foi expulso da sala nem da escola.
Sai
o Paraguai temporariamente, entra a Venezuela permanentemente no Mercosul,
encerrando uma novela que se arrastava desde 2006 porque o Congresso paraguaio
se negava a votar -ironicamente, cobrando democracia da Venezuela.
Incluindo
o parceiro suspenso, o bloco passa a ter 12,7 milhões de quilômetros quadrados
e mais de 260 milhões de consumidores. Ganha em densidade econômica o que
poderia perder em credibilidade
política.
Chávez, aliás, anda muito envolvido com os seus problemas internos, sem tempo e
energia para criar problemas externos.
Vai-se
discutir por um bom tempo se o que houve no Paraguai foi ou não golpe, mas a
realidade costuma ter uma dinâmica bem diferente da retórica, da teoria, da
ideologia.
Na
prática, Lugo perdeu as condições de governabilidade e só voltaria "por
milagre", como ele próprio admitiu. O Partido Liberal vai comandar a
transição, e o Colorado -enraizado na máquina, nas instituições e na sociedade
paraguaias, depois de 61 anos no poder- é o favorito nas eleições de 2013.
Os
quase quatro anos do ex-bispo Lugo foram um parêntesis, quase uma ilusão. O
jogo bruto da política não comporta ilusões nem iludidos.
elianec@uol.com.br
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