DANUZA
LEÃO
A felicidade ainda
existe
Fui
ficando alegre, cada vez mais alegre, a alegria foi se transformando numa quase
exaltação
JÁ
TE aconteceu de acordar um dia péssima, com a cabeça péssima, e achando que vai
ser assim para o resto da vida? Pois aconteceu comigo outro dia.
Abri
o jornal e não me interessei por nada, nem mesmo pela nova amizade Lula/Maluf;
liguei a TV, depois abri a agenda, fui do A ao Z e todos os nomes pareciam de
pessoas estranhas. Nem os dos dois ou três amigos com quem falo todos os dias
reconheci. Não sabia se estava chovendo ou fazendo sol, tal a falta de
interesse pelo mundo. Mas como é obrigatório ser alto-astral, resolvi fazer
alguma coisa para mudar o clima do dia.
Sempre
ouvi falar que ginástica ajuda a resolver qualquer problema, mas botar um tênis
e ir fazer pilates, nem pensar. Mal tive forças para me levantar e tomar um
copo de água, imagine para enfrentar algum esforço físico. Que tal ouvir uma
música? Acho que a morte seria melhor.
Tomar
um banho talvez melhorasse as coisas; uma boa chuveirada, com direito a lavar a
cabeça -quem sabe esfriá-la- só pode fazer bem. Cumpri o ritual, vesti um jeans
e uma camiseta, e percebi que não piorou, mas melhorar que é bom, nada.
Resolvi
então dar uma volta na praia para respirar um pouco de ar fresco, mas não
adiantou; voltei para casa e para a cama.
Por
que acordei assim? Não havia nenhuma razão especial, nada de grave estava
acontecendo em nenhum setor da minha vida. Estava assim por nada, ou talvez por
tudo. Não tinha vontade de nada, e se soubesse que em cinco minutos o mundo ia
se acabar, e dependesse de apenas um gesto meu para que isso não acontecesse,
seria capaz de ficar parada, quieta -e o mundo que se acabasse.
Mas
depois de pensar, pensar, descobri a raiz do problema. Vou tirar duas semanas
de férias e viajar, e a felicidade é muito difícil de ser vivida; e a culpa? A
partir daí, as coisas ficaram mais fáceis.
No
dia seguinte, uma amiga me chamou para ir a um restaurante que disse ser ótimo,
atrás do mercado de peixes, em Guaratiba, depois da Barra. Só que eu tenho
pavor a sair do meu bairro, sobretudo para ir às bandas da Barra, mas como a
Rio+20 acabou, com a graça de Deus, embarquei na aventura. Um safari,
praticamente.
Para
quem não conhece bem o Rio: para chegar à Barra se passa por vários túneis, e
com boa vontade, são uns 35/40 minutos num trânsito que não chega a competir
com o de São Paulo, mas que é bem intenso.
As
coisas começaram a melhorar depois que comi uma moqueca de peixe dos deuses;
quando pegamos o carro para voltar, comecei a ser feliz. Detalhe 1: o dia
estava lindo, com sol e céu azul. Detalhe 2: a volta da Barra é pela orla, e
são praias e praias, algumas de mar batido, outras de água mansa, em tons de
azul e verde de tirar o fôlego. Em São Conrado, a garotada praticando surfe; no
céu, outra garotada voando de asa-delta e ainda o cheiro da maresia.
E
ainda teve o Leblon, Ipanema, o Arpoador; aí pedi à minha amiga para seguir, e
passamos por Copacabana, Botafogo, Flamengo. Fui ficando alegre, cada vez mais
alegre, a alegria foi se transformando numa quase exaltação, e em cada sinal em
que parávamos, olhava e sorria para quem estivesse no carro ao lado, mesmo que
tivesse cara de assaltante. E tive a consciência de que estava feliz, que
adorava a vida, que adorava viver.
E
pensei numa coisa, numa coisa em que nunca se pensa quando se é -ou se está-
profunda e intensamente feliz.
Como
é injusto morrer.
danuza.leao@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário