06
de julho de 2012 | N° 17122
DAVID
COIMBRA
Querer ser grande
Quando
uma pessoa cai em depressão, quando ela se refocila em crise existencial, o que
ela perde é a capacidade de se alegrar com as pequenas coisas da vida. De
repente, ela não encontra mais prazer nas coisas realmente importantes, que são
as coisas sem importância.
A xícara
fumegante de café e o jornal de todas as manhãs. Uma gargalhada de criança. Um
beijo terno. O chope cremoso com os amigos. As brincadeiras dos colegas de
trabalho. A música que se evola do rádio do carro. Um despretensioso filme
policial de fim de noite. Nada disso muda a vida de ninguém, mas é isso que
constrói a vida a cada dia.
Muitas
vezes, a grande dificuldade não torna a pessoa infeliz. A grande dificuldade,
em vez de abatê-la, pode fazer com que lute, pode desafiá-la, pode até dar
sentido a sua existência.
O
ideal seria que o homem compreendesse que a verdadeira realização, que a vitória
mais gloriosa que ele pode alcançar é sentir todos os dias a alegria de estar
vivo, é aproveitar cada momento não com euforia, mas com suave satisfação.
Mas
isso é quase impossível. As pessoas anseiam por grandes conquistas, por fama e
fortuna, por glória e reconhecimento. Todos querem ser o número 1. Mas não
podemos ser todos o número 1: somos 7 bilhões, e o número 1 é um só. Mais: o número
1 não existe. Não existe um campeão. As pessoas não podem ser classificadas por
ordem de importância, como times num campeonato de futebol.
Só que
as pessoas se alimentam dessa ilusão. Então, elas se enganam com amores
perfeitos, quando o ideal é o amor do dia a dia; se enganam com a fama, quando
o ideal é o afeto; e se enganam com o dinheiro.
Todas
as pessoas precisam de dinheiro, mas há uma quantidade de dinheiro suficiente
para suprir quaisquer desejos. Por que alguém que tem cem milhões precisa de
mais um bilhão? Não precisa, mas muitas vezes a pessoa luta por isso e até se
corrompe por isso.
Grandeza.
As pessoas têm a ilusão da grandeza. Por isso que é quase incompreensível o
senador Demóstenes ter aceitado que o Cachoeira lhe pagasse até a conta do celular,
algo que, ele mesmo admitiu, era da monta de trinta ou quarenta reais. Corrupção
barata, portanto. Corrupção pequena. Feia, como toda corrupção, mas com o
triste agravante de ser baixa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário