05
de julho de 2012 | N° 17121
EDITORIAIS
BOMBAS FISCAIS
O
Ministério do Planejamento calcula que seriam necessários R$ 92,2 bilhões para
zerar as demandas salariais dos distintos setores do funcionalismo do
Executivo, do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público da União.
Esse
valor é superior aos produtos internos brutos (soma da riqueza produzida ao
longo de um ano) de 19 dos 26 Estados brasileiros. Para cobri-lo, o Tesouro
teria de desembolsar uma soma equivalente a mais de quatro vezes o valor total
destinado ontem pelo governo federal para a agricultura familiar. O mesmo
montante representa quase metade de toda a despesa de pessoal do serviço público
federal este ano.
Algumas
categorias de servidores argumentam que estão há seis anos sem reajuste. Outras,
que o governo federal se recusa a negociar. Outras, ainda, que os índices de
aumento pedidos representam tão somente a reposição da inflação do período. É de
se imaginar, pelo exame desses argumentos, que expressam necessidades
particulares e não tiveram oportunidade de refletir sobre o impacto global de
suas reivindicações.
Mas
não. Neste momento, sindicatos de diversos ramos do serviço público federal
ameaçam justamente deflagrar uma greve geral do funcionalismo cuja bandeira
seria o atendimento do conjunto de suas pretensões. Na prática, aliás, esse
movimento já se iniciou, uma vez que já estão de braços cruzados os servidores
de 13 órgãos públicos, entre eles a Funasa, o Incra e a Funai.
A
presidente Dilma Rousseff já manifestou sua disposição de não flertar com o
perigo em matéria de equilíbrio fiscal num momento em que Europa e Estados
Unidos se veem às voltas com uma grande recessão, a primeira testemunhada pela
economia mundial em 80 anos.
Países
como o Brasil, que foram até agora afetados pela crise em proporções
infinitamente menores que as de nações europeias, precisam antes de tudo
aferrar-se aos fundamentos macroeconômicos responsáveis por sua segurança
relativa. Um desses fundamentos é precisamente o equilíbrio fiscal.
Abrir
a porteira dos gastos públicos num momento delicado como o atual é o mesmo que
brincar com fogo num palheiro. Grave erro é imaginar que escapamos do pior dos
efeitos cíclicos, até o momento, por sermos um país tropical e abençoado por
Deus.
O
Banco Central rebaixou, há menos de uma semana, a previsão de crescimento da
economia este ano para 2,5%. Para bom entendedor, meio ponto de redução do PIB
basta. Infelizmente, não parece ser esse o caso de algumas lideranças do
funcionalismo.
Seria
absurdo ignorar que, diferentemente de outros setores da sociedade, a maioria
dos servidores públicos civis e militares da União é obrigada a viver com uma
expectativa de ganho invariável, a dos próprios vencimentos, que só variam
quando são reajustados. É justo, portanto, que almejem ganhar mais a fim de
minorar os efeitos da alta do custo de vida.
É igualmente
absurdo, porém, pretender que qualquer reivindicação salarial possa ser
atendida a qualquer tempo, tomando como justificativa apenas a percepção do
beneficiado. Há momentos mais propícios, e outros, menos propícios à concessão
de reajustes. Não pode haver dúvida sobre em qual dessas definições a situação
da economia brasileira se enquadra no momento presente.
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