terça-feira, 3 de julho de 2012



03 de julho de 2012 | N° 17119
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Jaca, que teria 60

Toda entrada de inverno me faz lembrar um querido e saudoso amigo, Luiz Sérgio “Jacaré” Metz. Foi numa dessas viradas de estação que ele faleceu, em 1996, 16 anos faz. Completaria 60 anos neste 2012, e é bem improvável pensar nele como um sessentão.

Os amigos que morrem antes da gente gozam desse dispensável privilégio, o de passarem os anos com a mesma idade que tinham. O Jaca era um quarentão jovial, que lançara um ano antes sua extraordinária novela Assim na Terra, livro estranho e exigente que não se reeditou mais, para lástima dos que, como eu, reconhecem seu gênio, difícil mas gênio. Antes desse livro, havia lançado um outro, de contos, O Primeiro e o Segundo Homem, e uma biografia de Aureliano de Figueiredo Pinto: essa sua obra autoral formalmente editada.

Mas o que ele fez além disso não é pouco, nem secundário. Fez a maior parte de um belo álbum sobre a Usina do Gasômetro (tive eu a honra de encerrar seu texto, deixado incompleto por ele justamente pela doença e a morte). Escreveu uma grande quantidade de textos políticos para companheiros seus do PT.

Com Tau Golin e Pedro Osório, redigiu um relato sensacional sobre uma cavalgada pioneira, de Santa Maria ao sul do estado, livro este editado apenas uns anos atrás, pela editora Arquipélago, com o grande título Terra Adentro.

(Essa experiência merece ser lida pela beleza do texto, pelo raro da experiência, mas também pelo depoimento histórico que traz: os três, então jovens jornalistas, resolveram conferir, em 1980, os efeitos que a televisão havia já feito na massificação das consciências, em todos os rincões do país.)

Amanhã mesmo, um de seus bons amigos, Vinícius Brum, lançará um CD composto em torno das histórias e das palavras do Assim na Terra, e por certo vai ser bom de rever, reler, reouvir o Jaca, sua voz rouca, sua verve sempre disposta para a piada inteligente, sua atitude antiautoritária. (O Jaca tinha umas quantas letras de música, com parceiros como Luiz Carlos Borges e Carlos Cachoeira.)

E nós, que aqui permanecemos, poderemos mais uma vez nos consolar, por um lado, e lamentar, por outro: já imaginou aquela figura ainda viva, nesses últimos 16 anos? O que teria escrito? Que sarros teria tirado?

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