RUTH
DE AQUINO
13/03/2015
21h52
Por que sair às
ruas
Quem
quer derrubar Dilma no grito não respeita o voto. Quem a apoia sem crítica não
pensa no país nem no povo
Um
bom motivo para participar de manifestações – a favor ou contra Dilma Rousseff
– chega a ser pueril. Podemos sair às ruas porque ainda é possível protestar
pacificamente no país sem ser preso. O Brasil ainda não virou uma Venezuela; o
regime democrático ainda não caiu de “maduro” e algumas instituições não estão
podres. Melhor aproveitar e exercer o direito à livre expressão – ou será que
não?
Um
bom motivo para ficar em casa é não acreditar em nenhuma grande bandeira das
manifestações pró e contra. Os grupos se confundem. Se existe algo que não
identifica a grande massa de manifestantes e não manifestantes, é a ideologia.
A maior burrice é rotular de “direita” ou “esquerda” quem vai numa ou na outra
manifestação. Ou quem decide não sair às ruas. Quem são os fascistas? Em qual
categoria ideológica se situam os que querem detonar, “com botas e chuteiras”,
a política econômica atual de Dilma? Leia-se aí o MST de Stédile.
Pergunte
se são de esquerda ou de direita os garis em greve contra o reajuste anual
ridículo de 3%, os caminhoneiros que bloqueiam as estradas, os favelados sem-
casa-esgoto-creche-hospital,
os policiais, os professores, os médicos, os comerciantes, os estudantes em
fila por senha para estudar. Pergunte se são de esquerda ou de direita os
desempregados pela incompetência oficial, ou todos nós que pagamos contas de
luz e gasolina estratosféricas pela má gestão do governo.
A
resposta será: ah, vem para a vida real, sem esse papo de direita ou esquerda,
somos a maioria sem voz, queremos um país que funcione, um governo que não
assalte os cofres públicos, uma economia que favoreça o emprego e os
empreendedores, sem descontrole da inflação, uma educação de qualidade para
todos, uma saúde digna, uma aplicação honesta dos altos impostos que pagamos,
uma infraestrutura que nos tire do Terceiro Mundo, uma política de segurança
que não deixe as famílias à mercê de criminosos. Queremos bons exemplos de cima
e fim da corrupção institucionalizada. É pedir muito?
Se
você é a favor da Petrobras e contra o roubo sistemático do PT à Petrobras, a
qual manifestação deve aderir? Se você abomina o cinismo dos últimos
pronunciamentos de Dilma Rousseff mas é contra o impeachment, deve sair às ruas
em protesto ou ir à praia e ao futebol? Se você é contra Eduardo Cunha e Renan
Calheiros – e, consequentemente, contra o domínio do pior PMDB –, qual
manifestação deve escolher? Ou vai ficar no sofá, um direito seu?
Se
você acredita na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se você
continua estarrecido com o depoimento frio do ex-gerente da Petrobras Pedro
Barusco, relatando a distribuição sistemática de propinas milionárias ao PT
desde a era Lula até a campanha de Dilma em 2010, como deve se comportar? Sai
ou não sai às ruas? Leva suas panelas para o fogo ou para a janela?
Se
você se preocupa com a desigualdade social, deve se aliar ao MST e ir contra o
ajuste fiscal de Dilma e Joaquim Levy? Mas aí você estará conspirando contra a
presidente. Como ela disse na quinta-feira no Rio de Janeiro, o Brasil “esgotou
todos os recursos para combater a crise”. Se empresários e sindicalistas se
unem em São Paulo contra o ajuste, quem é burguês, quem é coxinha, mãozinha,
perninha?
Você
acredita que o Brasil está nesse buraco por causa da “crise internacional” e
porque Dilma fez tudo pelos pobres – na educação e na saúde? Você acredita na
presidente quando ela diz que o governo do PT cortou gastos da máquina? Está
faltando pau de selfie no Planalto – a presidente precisa se enxergar sem
distorções de foco. Sobra cara de pau. Até o ex-tesoureiro da campanha
presidencial de Dilma fez mea-culpa, disse que o PT errou. Quando Dilma
assumirá alguma responsabilidade e pedirá desculpas à nação? A presidente nos pede
“paciência”. A população deveria pedir à presidente “sinceridade”. Mas é pedir
muito.
Quem
quer derrubar Dilma no grito esqueceu o que é uma ditadura, não respeita o voto
democrático, não pensa no país nem no povo e ainda por cima é ingênuo. Está claro
que manifestações por impeachment não são oportunas e não darão em nada.
Quem
apoia incondicionalmente uma presidente que fez desandar a economia e as
alianças políticas, que resistiu durante meses a afastar a presidente da
Petrobras e que mentiu e continua a mentir sobre índices e análises de seu
desempenho com uma desfaçatez nunca antes vista não pensa no país nem no povo e
ainda por cima é ingênuo.
Pedir
impeachment de Dilma não é golpismo, é tolice de desmemoriados. Acreditar em
Dilma não é idealismo, é tolice de desmemoriados. Vamos tentar o caminho do
meio. Saindo às ruas ou ficando em casa.
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