07
de março de 2015 | N° 18094
NÍLSON
SOUZA
DIA DO SER
HUMANO
Algumas
mulheres odeiam o Dia Internacional da Mulher, pela sua evidente e histórica
hipocrisia: elas são discriminadas e exploradas a vida inteira, numa sociedade
reconhecidamente machista e patriarcal, e no dia 8 de março ganham uma
florzinha. Visto por este ângulo, não há mesmo muito a comemorar nesta data que
a humanidade (machista e patriarcal desde que o australopitecus passou a se
considerar sapiens) reservou para elas.
Infelizmente,
não se muda isso por decreto. Fosse assim, talvez pudéssemos pressionar nossos
representantes políticos e os delegados da ONU (homens, na maioria) para que a
bem-intencionada homenagem fosse substituída por alguma coisa mais coerente,
como, por exemplo, o Dia da Igualdade de Gênero. Temo, porém, que nem isso
resolveria, pois seria apenas um dia. E os outros?
Não
os outros, mas todos deveriam ser celebrados como Dia do Ser Humano, sem
especificações distintivas. Se é abominável que as mulheres sejam
inferiorizadas, submetidas a jornadas triplas de trabalho, condicionadas e
rotuladas por padrões estéticos e sociais duvidosos, até mesmo escravizadas e
maltratadas em algumas sociedades, também é inaceitável que homens sejam
criados para competir, para guerrear, para serem dominadores e opressores.
Nascemos
desiguais, tanto na constituição física quanto nos mecanismos internos que
definirão nossos destinos. Mas podemos mudar isso. Acredito que homens e
mulheres não precisam ser iguais, nem buscar outras semelhanças além do
compartilhamento dos mesmos direitos e deveres.
Já
teremos atingido um grau elevado de equidade se aprendermos a administrar
civilizadamente nossas diferenças. Gosto muito de uma passagem da biografia do
sábio chinês Confúcio, na qual seus discípulos o desafiam a definir todo o seu
código de ética em uma só palavra.
–
Reciprocidade! – foi a sua resposta.
Traduzindo:
trate os outros como gostaria de ser tratado. Se homens e mulheres, homens e
homens, mulheres e mulheres, todos seguíssemos esta orientação, certamente
teríamos menos conflitos e não precisaríamos polemizar em torno de um dia igual
aos outros, mas que também pode ser especial.
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