20 de março de 2015 | N°
18107
MARCOS PIANGERS
Medo de avião
O avião é a maior invenção da
humanidade. Amanhã posso estar em Dubai, depois de amanhã na Austrália. Se eu
tivesse um dinheiro que não tenho. No final de semana, poderia almoçar em Roma.
Amanhã de noite, posso jogar em um cassino de Las Vegas.
E a humanidade criou um sistema
incrível, cidades que se desenvolvem ao redor de aeroportos, atendentes sempre
amáveis, as pessoas entrando e saindo dos aviões todo dia, toda hora, tentando
encaixar as malas de rodinhas nos compartimentos superiores, quase sempre com
sucesso. O avião é uma grande invenção, mas prova que estamos ficando meio
preguiçosos.
Pra fazer o trajeto Rio-São Paulo
em 1975 e pra fazer o mesmo trajeto em 2015, levamos o mesmíssimo tempo. Ou um
tempo muito parecido. Ficamos preguiçosos de melhorar essa bela tecnologia.
Pelo contrário: tudo piorou.
Dos talheres que eram de prata e
agora são de plástico aos alimentos servidos, antes filé mignon, agora
amendoim. Não pode ser a nossa última palavra em transporte intercontinental.
Esperávamos ter carros voadores, tubos de vácuo nos levando para todo lado. A
ficção científica previa o magnífico teletransporte. E aqui estamos nós,
felizes com uma poltrona que nos faz massagem no aeroporto.
O que melhorou foi a segurança, é
verdade. Hoje somos obrigados a tirar cinto, sapato, moedas. Mas, naquelas
caixinhas de produtos barrados antes do raio X, vejo só isqueiros, canetas,
shampoos, condicionadores, perigosíssimos cremes e prendedores de cabelo, que
fariam qualquer agente do FBI ser acionado imediatamente. Nunca vi bomba nem
espingarda naquelas caixinhas, o que me deixa bem mais tranquilo com o
comportamento dos meus parceiros de voo.
Agora, me permitam criticar um
fator de segurança aeroportuária. Depois do check-in, de entrar na área de
embarque, de conferir seu documento, de dividir as filas em categorias, de não
permitir passar por baixo da asa da aeronave, depois de tudo isso, sentamos na
poltrona (“proibido reclinar!”) e ouvimos o sistema de som da aeronave chamar:
“Senhor Valdemar. Por favor, senhor Valdemar: identifique-se com a tripulação”.
Como assim? Como o senhor
Valdemar conseguiu entrar nesse avião e não ser identificado? O senhor Valdemar
é algum tipo de ninja? Aí está o furo da segurança na aviação mundial: o senhor
Valdemar. Liberem os inocentes de tirar os sapatos no raio X e prendam o senhor
Valdemar. Esse homem é um verdadeiro perigo para nossas viagens aéreas.
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