RUTH
DE AQUINO
06/03/2015
21h31
A boca fechada de
Dilma
Dilma
sai à cata de dinheiro, arrecadando ainda mais impostos. Ela sabe que quebrou
Ela
perdeu muito peso em poucos meses. Na balança do corpo, perdeu 15 quilos, desde
novembro, graças a uma dieta argentina. Na balança do poder, Dilma Rousseff
perdeu parte do apoio de seu principal aliado, o PMDB, e a confiança do país.
Hoje, ela é uma mulher bem mais magra e uma presidente bem mais fraca.
Está
emparedada pelo Congresso, que se amotina por causas nobres e motivos espúrios.
Está isolada do povo por não ter condições financeiras para manter um governo
assistencialista e populista. Corta programas sociais para não ver o Brasil se
desmilinguir. Com um Estado inchado que custa 40% do PIB – repetindo, um Estado
que consome quase metade do PIB, um dos Estados mais caros do mundo –, Dilma
sai à cata de dinheiro, arrecadando ainda mais impostos. Ela sabe que quebrou.
Da
mesma forma que reduziu a barriga e os quadris, Dilma terá de encolher o Estado
e as estatais, coisa que já deveria ter feito em tempos gordos, antes da dieta.
Em 2005, há dez anos, havia um projeto de ajuste fiscal de longo prazo, com uma
meta de deficit zero nas contas públicas. Dilma achou “rudimentar” esse regime.
Deu no que deu, o Estado ficou obeso, e só mesmo uma cirurgia radical nos
salvará.
Não
será o médico argentino Máximo Ravenna que fará emagrecer a gulosa máquina
petista. Esse método reduz apenas quilos, rapidamente, e visa queimar as
reservas de gordura do corpo. Associa cardápio de baixa caloria a atividade
física e acompanhamento psicológico. Dilma é obediente, ingere apenas 800
calorias por dia e ajusta seu figurino. No corpo, tinha muitas reservas a
queimar. Já no país...
Para
ajustar as finanças, ainda bem que Dilma não chamou um argentino. O mago
Joaquim Levy, sorridente e pragmático, precisa mostrar resultados rápidos na
economia. O ajuste de Levy é draconiano, mas será que seu cliente, o governo do
PT, se ajustará às regras da dieta? Ou se viciou no desperdício? Dilma e Levy
precisarão se entender às mil maravilhas, porque, se houver uma quebra de
discurso e de confiança entre médico e paciente, neste caso, quem sofrerá será
nosso corpinho, quem sofrerá será o Brasil.
Dilma
prova hoje o sabor amargo de uma vitória eleitoral conquistada em cima de
mentiras, ilusões, conchavos, acusações irresponsáveis e promessas vãs. O
eleitorado militante petista está mais calado que a presidente. Se existe
alguém, hoje, que não provoca inveja no Brasil, é Dilma. Também não inspira
pena. Chegou aonde chegou por suas próprias pernas, arrogância, omissão e
temperamento. Dilma II só pode culpar Dilma I. Também pode culpar seu criador,
Lula, que a fez acreditar num futuro mirabolante.
Metida
no inferno astral, o que faz Dilma? Come menos e fala menos. Quase some. A
imprensa a acusa de “letargia” e “inércia”. Chama a presidente de “zumbi” e
“surda”. Parece telespectadora de si mesma. Vê a lista dos políticos acusados
de corrupção, divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
felizmente sem seu nome. Vê a paralisação dos caminhoneiros. Vê a greve de
professores.
Vê a
revolta das mulheres dos sem-terra, armadas com facões. Vê despencar a venda de
carros em fevereiro. Vê sua Medida Provisória devolvida por Renan Calheiros,
logo quem. Vê que perdeu até a chance de indicar cinco novos ministros para o
Supremo Tribunal Federal, porque a Câmara aumentou a idade máxima, no STF, de
70 para 75 anos. Vê um movimento nas ruas e redes sociais por seu impeachment.
Vê o povo insatisfeito e temeroso com a volta da inflação e do desemprego.
Pois
eu acho que Dilma está certa ao se recolher. Comer menos, falar menos, evitar
gafes, entender o que se passa, recosturar suas alianças, esperar passar a
borrasca e não fazer besteira. Pode até divulgar fotos suas comprando doce de
leite num supermercado no Uruguai, para parecer uma avó e dona de casa comum.
Mas terá de trabalhar mais e direito nos 46 meses que lhe restam. Não basta se
repaginar, ondular o cabelo e refazer os terninhos. Terá de se reinventar.
Mudar a postura. E assumir responsabilidade real com a vida de 200 milhões de
brasileiros e suas famílias.
Dilma
errou demais da conta. Mas a hora é de um pacto para evitar o pior panorama:
uma recessão sem luz no fim do túnel. Não importa mais quem votou em Dilma ou
contra ela. Importa o voto em nosso país, importa evitar uma crise
institucional e econômica sem volta. Vale acompanhar o ensaio de uma
aproximação entre setores do PT e do PSDB, unidos por dois interesses: tornar o
PMDB um pouco mais humilde e salvar o Brasil. Há interlocutores no PSDB que
Dilma já disse admirar e respeitar. Um deles é o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. Mas, por enquanto, é melhor ficar de boca fechada.
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