quinta-feira, 19 de março de 2015


19 de março de 2015 | N° 18106
EDITORIAS

A PROPINA LEGALIZADA

A divulgação do depoimento do principal suspeito da Operação Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras e propineiro confesso Paulo Roberto Costa, desvenda a hipocrisia até mesmo das doações eleitorais oficiais, admitidas pela Justiça Eleitoral. O ex-dirigente foi claro ao resumir como ocorrem as negociatas entre os setores público e privado.

Esse negócio de contribuição oficial não existe. É balela. Nenhuma empresa vai doar milhões porque gosta de Fulano de Tal. Todas as doações, oficiais ou não, são empréstimos. A empresa está emprestando pro cara e vai cobrar dele depois.

O setor privado também tem essa consciência, como confessou em juízo o sócio-diretor da Engevix Gerson de Mello Almada, réu no mesmo caso e preso desde novembro: “A gente andava numa rodovia chamada Petrobras, em que você precisava ficar pagando pedágio”. Pedágio, no caso, é o valor desembolsado por fornecedores para bancar campanhas eleitorais e, com isso, garantir os melhores contratos.

Tão grave quanto a naturalidade como a corrupção é vista entre esses agentes é o fato de que muitas dessas doações, como está comprovando a investigação do Ministério Público, são resultantes de contratos superfaturados. E isso com a anuência tanto de servidores de carreira quanto de integrantes de partidos políticos que, nos últimos anos, partilham em benefício próprio o comando de áreas-chave da estatal.


A cadeia de corrupção só funciona porque há gente desonesta em todas as etapas, dentro e fora do governo. Mas não há dúvida de que o financiamento de campanhas eleitorais é o ponto-chave a ser regrado.

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