31
de março de 2015 | N° 18118
ARTIGOS
- ANTONIO MARCELO PACHECO*
A VIOLÊNCIA ESTÁ TAMBÉM EM
NÓS!
Vivemos
na constante iminência da presença das violências, assim mesmo no plural. São
violências simbólicas e violências físicas que assaltam sujeitos de grupos e
espaços sociais distintos: são professores que apanham de pais e alunos, são
adolescentes que matam por motivo fútil, são índices semanais de mortes no
trânsito, são as ofensas, as injúrias que violentam a honra, a imagem e o nome
de indivíduos e de grupos sociais.
É
fácil responsabilizar o Estado como fonte primária dessa produção de violências
que homeopaticamente vêm nos tornando imunes, passivos e domesticados ao reagir
à violência. Sujeitos das violências que nos amedrontam, nos tornamos reféns
desta mesma violência, (re)produzindo-a em tentativas desesperadas no nosso
sobreviver.
Contudo,
isto é impossível. As violências, precisamos reconhecer com certa dose de
coragem, estão na sociedade, nos sujeitos e não somente nos representantes do
Estado. Policiar a polícia que mata é uma obrigação cidadã, mas quem tem a
coragem para policiar a sociedade sem precisar da farda para construir uma
existência razoavelmente segura para a própria sociedade?
Quando
pais partem para a agressão contra professores na frente de seus filhos
adolescentes, quando jovens saindo de inferninhos que, fechados pela ação do
Estado, são reabertos por este mesmo Estado, matam, quando agentes de trânsito
são humilhados pela cor de sua pele a partir de preconceitos que estão em todos
os grupos sociais, quando observamos que o Brasil tem um índice de homicídios
que supera países que estão em plena guerra civil, é obrigatório reconhecer o
que queremos desconhecer: temos participação nesse processo na medida de nossa
irresponsabilidade.
As
violências precisam reencontrar sua matriz básica que está no abandono da ideia
de solidariedade, da condição de compromisso e da necessária percepção da
empatia que nos torna igualmente sujeitos. Não iguais, mas todos humanos. As
violências são sociais, muito mais do que institucionais e é preciso vencer o
medo e protagonizar a resistência às violências mesmo que de forma anônima e
mundana, mas sempre humana.
*Sociólogo
e membro do Grupo Violência e Cidadania da UFRGS
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