22 de março de 2015 | N°
18109
MOISÉS MENDES
Panelas e classes médias
Classe média é um conceito tão elástico, que nele
cabem você, seu vizinho, seu primo, seu empregado ou seu patrão e gente que tem
muito mais ou muito menos do que você. Pode ser o estrato econômico e social do
qual você participa há muito tempo e continua participando, mas de forma cada
vez mais precária, e do qual outros começaram a participar há pouco, mas de
forma cada vez mais exuberante.
Um antigo integrante da classe
média pode estar a um passo de empobrecer (ou permanecer estagnado), e alguém
que virou classe média recentemente pode estar a um palmo de prosperar mais
ainda. Talvez esteja aí, entre os novos e os velhos integrantes da classe
média, a mais relevante questão nacional. Entender, decifrar e atender ou
ignorar as demandas da classe média, da velha e da nova, é mais desafiador para
o governo do que saciar a fome dos achacadores do Congresso.
Os achacadores, assim definidos
pelo ex-ministro Cid Gomes, são zumbis gosmentos que chantageiam, cercam,
blefam. Mas não têm condições de levar adiante o impeach- ment, a manobra que
excita pelo menos 27% dos participantes da passeata em São Paulo, segundo as
pesquisas.
Torcedores do impeachment terão
de esperar. Esse Congresso não derruba nem presidente de Círculo de Pais e
Mestres de creche de Barbacena. As empreiteiras fizeram doações a 41% dos
parlamentares eleitos, que pertencem a PT, PMDB, PSDB, PSD, DEM e PP.
Integrantes da CPI da Petrobras
têm rabo preso com os empreiteiros. Alguns desses parlamentares fazem os
discursos mais moralistas do Congresso. Não espere muito deles, espere teatro
de uns e achaque de outros.
Por isso, esqueça o parlamento
achacador e atente para o encontro das classes médias. Enquanto desce, ou fica
parada, a velha classe média encontra-se no caminho com a nova, que vinha
subindo. Há ressentimento, angústias, dúvidas e confronto de vaidades nessa
pororoca. Os que ignoram esse fenômeno protegem-se no autoengano.
A velha classe média ajudou a dar
forma ao petismo. Elegeu os primeiros prefeitos, vereadores, deputados e
governadores do partido e teve preponderância no eleitorado de Lula em 2002. A
partir de 2006, afastou-se do partido, enquanto esse perdia glamour (pelas
alianças à direita e pelo mensalão) e enquanto os pobres davam, a partir de
2006, forma ao lulismo – que substituiu o petismo.
A classe média, na ressaca,
perdeu ilusão e renda. Ela está no caminho de quem sobe com carro zero,
passaporte para Nova York e filho na faculdade. A velha classe média,
atrapalhada para pagar a escola e o plano de saúde, é confrontada com a
ascensão de quem, historicamente, parecia nunca poder sair de onde está.
Mas também a nova classe média
começa a querer mais, como mostram as pesquisas. E amplifica-se uma pergunta
formulada há pelo menos meia década: para que lado irão os que ascenderam
socialmente com o lulismo?
Que postura política terão os
cidadãos agregados à classe média nos últimos anos? Há quem diga que eles serão
iguais à antiga classe média pós-PT.
Enquanto se esperam respostas e
os achacadores achacam, uma coisa é certa. A nova classe média, essa criatura
que pode ser tão imprevisível quanto a velha classe média, começa a incomodar o
criador. Agora, com panela inox.
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