sábado, 21 de março de 2015


22 de março de 2015 | N° 18109
MOISÉS MENDES

Panelas e classes médias

Classe média é um conceito tão elástico, que nele cabem você, seu vizinho, seu primo, seu empregado ou seu patrão e gente que tem muito mais ou muito menos do que você. Pode ser o estrato econômico e social do qual você participa há muito tempo e continua participando, mas de forma cada vez mais precária, e do qual outros começaram a participar há pouco, mas de forma cada vez mais exuberante.

Um antigo integrante da classe média pode estar a um passo de empobrecer (ou permanecer estagnado), e alguém que virou classe média recentemente pode estar a um palmo de prosperar mais ainda. Talvez esteja aí, entre os novos e os velhos integrantes da classe média, a mais relevante questão nacional. Entender, decifrar e atender ou ignorar as demandas da classe média, da velha e da nova, é mais desafiador para o governo do que saciar a fome dos achacadores do Congresso.

Os achacadores, assim definidos pelo ex-ministro Cid Gomes, são zumbis gosmentos que chantageiam, cercam, blefam. Mas não têm condições de levar adiante o impeach- ment, a manobra que excita pelo menos 27% dos participantes da passeata em São Paulo, segundo as pesquisas.

Torcedores do impeachment terão de esperar. Esse Congresso não derruba nem presidente de Círculo de Pais e Mestres de creche de Barbacena. As empreiteiras fizeram doações a 41% dos parlamentares eleitos, que pertencem a PT, PMDB, PSDB, PSD, DEM e PP.

Integrantes da CPI da Petrobras têm rabo preso com os empreiteiros. Alguns desses parlamentares fazem os discursos mais moralistas do Congresso. Não espere muito deles, espere teatro de uns e achaque de outros.

Por isso, esqueça o parlamento achacador e atente para o encontro das classes médias. Enquanto desce, ou fica parada, a velha classe média encontra-se no caminho com a nova, que vinha subindo. Há ressentimento, angústias, dúvidas e confronto de vaidades nessa pororoca. Os que ignoram esse fenômeno protegem-se no autoengano.

A velha classe média ajudou a dar forma ao petismo. Elegeu os primeiros prefeitos, vereadores, deputados e governadores do partido e teve preponderância no eleitorado de Lula em 2002. A partir de 2006, afastou-se do partido, enquanto esse perdia glamour (pelas alianças à direita e pelo mensalão) e enquanto os pobres davam, a partir de 2006, forma ao lulismo – que substituiu o petismo.

A classe média, na ressaca, perdeu ilusão e renda. Ela está no caminho de quem sobe com carro zero, passaporte para Nova York e filho na faculdade. A velha classe média, atrapalhada para pagar a escola e o plano de saúde, é confrontada com a ascensão de quem, historicamente, parecia nunca poder sair de onde está.

Mas também a nova classe média começa a querer mais, como mostram as pesquisas. E amplifica-se uma pergunta formulada há pelo menos meia década: para que lado irão os que ascenderam socialmente com o lulismo?

Que postura política terão os cidadãos agregados à classe média nos últimos anos? Há quem diga que eles serão iguais à antiga classe média pós-PT.


Enquanto se esperam respostas e os achacadores achacam, uma coisa é certa. A nova classe média, essa criatura que pode ser tão imprevisível quanto a velha classe média, começa a incomodar o criador. Agora, com panela inox.

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