19 de março de 2015 | N° 18106
LUCIANO ALABARSE
A
FALTA DO BASTÃO DE LEITE
Quando li que a Vontobel comprara a Neugebauer, fui
atropelado pela urgência de um dos meus desejos mais secretos: exigir em alto e
bom som a volta do Bastão de Leite, o melhor chocolate da história do mundo.
Tenho certeza de que, se o provassem, os deuses do Olimpo trocariam sua
ambrosia por ele. Desenvolvi, ao longo dos anos, a tese de que a derrocada do
Rio Grande do Sul começou, décadas atrás, devido ao sumiço do Bastão. E estou
disposto a implorar à família Vontobel que o devolva aos gaúchos.
Quando escrevi “implorar”, rindo, me veio à memória um dos
trechos do excepcional romance de David Foster Wallace, Graça Infinita,
justamente aquele em que um psicanalista à beira de um ataque de nervos
pergunta ao adolescente Hal Incandenza se ele sabia o significado desse verbo.
Hal, tenista superdotado e maconheiro compulsivo, cuja diversão era decorar
verbetes de dicionário, não só sabia como recitou de cor todos os significados
da palavra.
Minha insólita associação pode induzir comparações com o
personagem química e eternamente “fora da casinha”, mas não: nunca me droguei
e, desde sempre, não suporto o cheiro adocicado da maconha. Isso não impede que
seja favorável à sua descriminalização e uso – para e por quem gosta. Minhas
drogas viciantes foram livros e canções, em especial as letras de Caetano e os
livros de Clarice Lispector.
Falando em música: sempre gostei mais de Silvio Rodríguez do
que de Pablo Milanés, os dois gigantes da Nova Trova Cubana. Pablo, aos 72 anos
e tratando de um rim na Espanha, deu uma entrevista incrível para o El País, de
Madri. Reproduzo suas palavras sobre a revolução castrista, da qual foi
ferrenho defensor : “...arrependido, não. Estou decepcionado – e acho que os
que pensam como eu também – com dirigentes que prometeram um amanhã melhor, com
felicidade, liberdade e uma prosperidade que nunca chegou em 50 anos”.
Em Cuba, lá também, faltou o Bastão de Leite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário