16
de março de 2015 | N° 18103
CÍNTIA
MOSCOVICH
VÁRIAS FORMAS DE
MORRER
Março
começou agitadíssimo: na sexta-feira, dia 6, o ministro do STF Teori Zavascki
derrubou o segredo de Justiça dos nomes investigados na Operação Lava-Jato e
foi divulgada a lista do procurador geral da República Rodrigo Janot. No meio
do rebuliço que a lista provocou, uma notícia abalou a minha segunda-feira, dia
9: um adolescente de 14 anos, Peterson Ricardo de Oliveira, morreu após ser
espancado por colegas de uma escola pública na Grande São Paulo.
O
motivo da agressão é (mais) uma estupidez: o menino era filho de um casal de
homossexuais. Segundo depoimentos, Peterson, que era alvo constante de
zombarias, foi massacrado num dos corredores do colégio. Os fatos ainda estão
sob investigação, mas o prontuário do hospital afirma que o menino teve
perfurações no pulmão, hemorragia interna e chegou à emergência com parada
cardiorrespiratória. Dois dos seis adolescentes que participaram do linchamento
estiveram na casa da avó do menino e pediram desculpas.
Enquanto
nas redes sociais o mundo começava a se dividir entre petralhas e coxinhas,
essa nova modalidade de luta de classes, a notícia da morte do guri passou
batida. Só que não podia passar sem ser notada: o linchamento de um adolescente
é motivado pelo mesmo ódio que faz questão de arrasar quem quer que venha a
discordar do que quer que seja.
Não
sei se os meninos que mataram Peterson eram petralhas ou coxinhas, se eram
elite, se eram trabalhadores, se eram ricos ou pobres, burgueses ou
proletários. No entanto, dá para dizer que esses meninos foram criados dentro
de um sistema de valores baseado no extermínio do diferente e com sérias
deficiências morais.
Um
fato, e só um fato, aponta alguma esperança. Os dois meninos que foram se
desculpar pela barbárie. Como até pessoas com mais idade e com algum verniz têm
se revelado medíocres na conduta e na vida, a atitude dos meninos os faz, de
repente, menos estúpidos.
Com
relação à Lava-Jato e a todos os escândalos que nunca mais parecem cessar e que
sangraram ao limite o país, que sejam exemplarmente punidos. Corrupção nada
mais é do que o assassinato oportunista, lento e torturante de uma nação.
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