sexta-feira, 20 de março de 2015

Jaime cimenti

Lupicinios

Lupicínio Rodrigues, nosso amado Lupi, que recém fez seus primeiros 100 anos (1914-1974) - imagina os próximos cem! - como todo mundo sabe, era vários, era muitos. Guri de recados, baleiro, vendedor de pastéis, aprendiz de mecânico, operário, soldado do Exército, servente e contínuo da Faculdade de Direito, compositor, cantor, procurador da Sbacem, dono de bares e restaurantes, cronista de jornal, candidato a vereador, cozinheiro, pai de família, amigo do cantor Johnson e pai do Lupinho, entre outras missões, Lupi viveu muitas vidas e segue vivendo por aí.

Almanaque do Lupi: Vida, obra e curiosidades sobre o maior compositor popular gaúcho (Editora da Cidade e Letra&Vida, 100 páginas), do jornalista e publicitário Marcello Campos, chega no momento exato e, até agora, é a obra que reúne o maior e mais organizado volume de informações sobre o compositor de Vingança, Nervos de aço, Nunca e tantos outros clássicos.

O título, a diagramação e o tamanho dos textos não poderiam ser melhores, até porque casam bem com a personalidade e com a obra de Lupi. Certas fotos, como a de Lupi com Elis, em 1964, na TV; com Serenita na praça e com Lupinho, Jamelão e Tulio Piva passam muita emoção.

Na página 40, Lupi surge em fotos com Vinicius, Caymmi, Alcides Gonçalves e Johnson. Nas fotos sempre, a elegância, o carisma e a luz do compositor. Marcello Campos escreveu sobre Johnson e Alcides Gonçalves e há muito se dedica a Lupicínio.

Em meio às muitas e merecidas comemorações do centenário de Lupicínio Rodrigues realizadas pela Secretaria Municipal da Cultura, o Almanaque não é uma biografia propriamente dita. É um gostoso apanhado de aspectos conhecidos, perdidos e insólitos de uma vida no palco e fora dele. Realidade e fantasia, claro, bailando juntas, passados 40 anos da prematura viagem de Lupicínio para o andar de cima. Sem rigores acadêmicos - tantas vezes tão chatos - o autor nos oferece dados precisos sobre cronologia, cancioneiro, discografia, realizações e atividades paralelas, além de divertidas curiosidades.

Certo dia, Dona Cerenita decidiu ir ao salão de beleza, mas ficou com receio de que Lupi aproveitasse sua ausência para ir ao encontro da turma de amigos. Ele estava de pijama e disse a ela que poderia chavear o roupeiro, que, assim, ele não poderia pegar o traje. Ela chaveou e saiu. Quando ela dobrou a esquina, ele, vestindo pijama, foi até a loja de um amigo na Azenha e....na página 41 o leitor vai descobrir o resto da história da festa do pijama.

Numa noite de sábado de 1972, num Fusca azul, Tânia Carvalho conduziu Caetano Veloso ao bar e restaurante Chão de Estrelas, na rua José do Patrocínio, 904, onde conseguiram encontrar Lupi. O encontro seguiu madrugada adentro e a admiração foi mútua. Mais tarde, Caetano gravou Felicidade.


É isso. Enquanto houver histórias de amor, sedução, prazer, traição, dor, noite, futebol, amigos, música da boa e boêmia, a cadeira de Lupicínio jamais estará vazia. E ele nunca precisou levar a cadeira para o Rio ou São Paulo.

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