Jaime cimenti
Lupicinios
Lupicínio Rodrigues, nosso amado
Lupi, que recém fez seus primeiros 100 anos (1914-1974) - imagina os próximos
cem! - como todo mundo sabe, era vários, era muitos. Guri de recados, baleiro,
vendedor de pastéis, aprendiz de mecânico, operário, soldado do Exército,
servente e contínuo da Faculdade de Direito, compositor, cantor, procurador da
Sbacem, dono de bares e restaurantes, cronista de jornal, candidato a vereador,
cozinheiro, pai de família, amigo do cantor Johnson e pai do Lupinho, entre
outras missões, Lupi viveu muitas vidas e segue vivendo por aí.
Almanaque do Lupi: Vida, obra e
curiosidades sobre o maior compositor popular gaúcho (Editora da Cidade e
Letra&Vida, 100 páginas), do jornalista e publicitário Marcello Campos,
chega no momento exato e, até agora, é a obra que reúne o maior e mais organizado
volume de informações sobre o compositor de Vingança, Nervos de aço, Nunca e
tantos outros clássicos.
O título, a diagramação e o
tamanho dos textos não poderiam ser melhores, até porque casam bem com a
personalidade e com a obra de Lupi. Certas fotos, como a de Lupi com Elis, em
1964, na TV; com Serenita na praça e com Lupinho, Jamelão e Tulio Piva passam
muita emoção.
Na página 40, Lupi surge em fotos
com Vinicius, Caymmi, Alcides Gonçalves e Johnson. Nas fotos sempre, a
elegância, o carisma e a luz do compositor. Marcello Campos escreveu sobre
Johnson e Alcides Gonçalves e há muito se dedica a Lupicínio.
Em meio às muitas e merecidas
comemorações do centenário de Lupicínio Rodrigues realizadas pela Secretaria
Municipal da Cultura, o Almanaque não é uma biografia propriamente dita. É um
gostoso apanhado de aspectos conhecidos, perdidos e insólitos de uma vida no
palco e fora dele. Realidade e fantasia, claro, bailando juntas, passados 40
anos da prematura viagem de Lupicínio para o andar de cima. Sem rigores
acadêmicos - tantas vezes tão chatos - o autor nos oferece dados precisos sobre
cronologia, cancioneiro, discografia, realizações e atividades paralelas, além
de divertidas curiosidades.
Certo dia, Dona Cerenita decidiu
ir ao salão de beleza, mas ficou com receio de que Lupi aproveitasse sua
ausência para ir ao encontro da turma de amigos. Ele estava de pijama e disse a
ela que poderia chavear o roupeiro, que, assim, ele não poderia pegar o traje.
Ela chaveou e saiu. Quando ela dobrou a esquina, ele, vestindo pijama, foi até
a loja de um amigo na Azenha e....na página 41 o leitor vai descobrir o resto
da história da festa do pijama.
Numa noite de sábado de 1972, num
Fusca azul, Tânia Carvalho conduziu Caetano Veloso ao bar e restaurante Chão de
Estrelas, na rua José do Patrocínio, 904, onde conseguiram encontrar Lupi. O
encontro seguiu madrugada adentro e a admiração foi mútua. Mais tarde, Caetano
gravou Felicidade.
É isso. Enquanto houver histórias
de amor, sedução, prazer, traição, dor, noite, futebol, amigos, música da boa e
boêmia, a cadeira de Lupicínio jamais estará vazia. E ele nunca precisou levar
a cadeira para o Rio ou São Paulo.
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